Candidato do PT usa tática ‘mandrake’ para apoiar rival no Maranhão
DIÓGENES CAMPANHA, DE SÃO PAULO
Um petista insatisfeito com o apoio do partido a Lobão Filho (PMDB), candidato a governador do Maranhão ligado à família Sarney, encontrou uma forma criativa e polêmica de fazer campanha para um rival em pleno horário eleitoral da sigla.
Márcio Jardim disputa uma cadeira de deputado federal pelo PT e é um dos líderes da dissidência que criou um comitê informal no Estado para apoiar Flávio Dino, do PC do B. Dino é adversário de Lobão Filho na eleição para o governo.
Ele decidiu concorrer com o número 1365 — o 13 do PT e o 65 de Flávio Dino. Uma “coincidência” que ele faz questão de enfatizar em suas inserções na TV, nas quais também repete dois slogans da campanha comunista em apenas 25 segundos de texto.
http://mais.uol.com.br/view/15173624“Você quer 1365. Esse é o voto da coerência por um Brasil com mais futuro e um Maranhão de todos nós. Cinquenta anos cansou, a alegria vai chegar. […] Meu número é 1365. Vou repetir: 1365. Entendeu, né?”, diz Jardim no programa, abrindo bem a boca e exibindo os dentes na hora de falar o “65”.
“O Maranhão é de todos nós” e “Cinquenta anos cansou. Agora, a alegria vai chegar” são frases que Dino vem usando em sua campanha. Evocam as quase cinco décadas de predomínio político da família Sarney no Estado –o hoje senador José Sarney (PMDB-AP) elegeu-se governador do Maranhão em 1965.
Jardim negou ao blog que esteja fazendo campanha velada para Flávio Dino. Sustenta que “Maranhão de todos nós” é uma “expressão universal” e que o tal cinquentenário se refere a outra data histórica.
“Cinquenta anos está fazendo a ditadura militar. O PT orientou que deveríamos fazer disso tema de debate. Não tem nada a ver com a oligarquia Sarney. Entendeu, né?”, disse.
NA JUSTIÇA
A coligação de Lobão Filho entendeu –ou não– e ajuizou uma representação no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para barrar a inserção de Jardim.
O juiz Ricardo Macieira negou a liminar (decisão provisória) pedida pelo peemedebista. Para o magistrado, Jardim não pediu voto para Dino, e suas críticas no programa “se referem à necessidade de mudança no Maranhão, sem referência à candidatura” do comunista.
“O conteúdo da inserção refere-se à propaganda do próprio candidato a deputado, com informação de seu número (1365), sem elementos que levem a crer em invasão de horário em favor de candidato majoritário”, escreveu Macieira em sua decisão.
O advogado de Lobão Filho, Ruy Villas Boas, afirmou discordar da decisão. Disse esperar ter sucesso quando o caso for analisado pelo plenário do TRE. “É nítida a propaganda que ele está fazendo, dentro da nossa coligação, para outro candidato”, disse.
Enquanto a corte não chega a uma decisão definitiva, Jardim pretende levar ao horário eleitoral outra “feliz coincidência” que o destino lhe reservou.
“Vamos gravar em frente à casa onde nasci, em Arari [115 km de São Luís], e o número da casa coincidentemente é 65. Ele estava até gasto, então coloquei um novo para ficar mais bonito na imagem.”
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