Pagode dos anos 90 se transforma em arte de rua em Vitória

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PAULA SPERB, DE SÃO PAULO

O pagode dos anos 1990 ressurgiu em Vitória (ES). As letras melosas, contudo, não voltaram às listas de mais pedidas nas rádios, mas estampam muros, postes e viadutos da capital capixaba,  num projeto de arte urbana.

A ideia da designer Rayza Mucunã, 23, é espalhar pela cidade o que o pagode dessa década tem de mais universal: a mensagem de amor. As fotos de grupos nas capas de discos e os figurinos duvidosos, portanto, continuam apenas na memória de quem acompanhou o “boom” do gênero à época.

Rayza diz ter idealizado as intervenções em 2012, ao se deparar com uma mureta na vizinha Vila Velha que acabou sendo a primeira construção a receber o apelo romântico.

“Depois resolvi continuar e transformei em um projeto. Nunca tinha visto em nenhum lugar, nesse estilo grande, parecendo outdoor”, conta.

A intervenção de estreia trouxe os dizeres “Me liga, me manda um telegrama, uma carta de amor”, do Exaltasamba. Cada letra, do tamanho de uma folha de ofício, foi grudada no cimento com cola caseira feita com farinha. Até hoje foi a única intervenção que sofreu vandalismo, sendo descaracterizada. As outras seguem intactas.

Mas assim como um amor proibido, o projeto pode causar muita dor de cabeça –não autorizadas pelo poder público, as intervenções equivalem a pichações.

Rayza diz reconhecer que a ação é irregular. Afirma já ter corrido da polícia de madrugada –quando acabou assaltada.

Na visão da artista, as letras de pagode noventista, em geral inofensivas, são mais aceitas do que mensagens de protesto grafitadas pela cidade. Afinal, pode-se dizer, quem nunca leu “me ajuda a segurar essa barra que é gostar de você” para cantarolar na sequência um “dididiê-ê-ê” em ritmo de Raça Negra?

A jovem diz ter escolhido trechos de músicas que marcaram o inicio de sua adolescência. “A maioria das músicas estourou entre 1990 e 2000. Os novos não conheço muito”, conta Rayza, sem esconder o gosto pelo estilo.

Outra razão para a opção por versos como “Eu não posso suportar/essa dor que se chama amor”, do Só Pra Contrariar, é que as melodias daquele tempo, avalia a designer, são mais lembradas do que sucessos recentes.

O vigor desse renascimento do estilo em forma de arte dependerá do tempo livre de Rayza, que participa de um coletivo de arte, o “Foi à feira”, que trabalha com produção de fanzines e outras formas de expressão alternativa. Todos colaboram de alguma maneira com os cartazes lambe-lambe de pagode, considerados um “hobby”.

Conheça mais sobre o projeto aqui –já o trabalho do coletivo de Rayza pode ser conhecido aqui.

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