A cidade que terá um ‘plebiscito do sim’ na eleição de outubro
LUCAS SAMPAIO, DE CAMPINAS
Campinas (SP) será a única cidade do Brasil a realizar um plebiscito simultâneo às eleições de outubro. Mas a consulta, a primeira concomitante às eleições gerais, tende a ser uma barbada –porque até agora só há quem defenda uma posição.
O município, 14º maior do país, decidirá se seus bairros mais populosos –Campo Grande e Ouro Verde, que concentram 35% da população– devem virar distritos.
No plebiscito, cerca de 800 mil eleitores poderão optar pelo “sim” ou pelo “não”, mas nenhum vereador quer assumir a presidência da frente do “não”.
A frente do “sim” já conta com 25 dos 33 vereadores da cidade –e deve chegar a 30, diz Rafa Zimbaldi (PP), autor da proposta do plebiscito e presidente dessa frente. “Não existem pontos negativos [da criação dos distritos]”, diz.
E qual é a razão da consulta se já há consenso? Zimbaldi diz que, pela lei orgânica do município, o plebiscito é obrigatório nesses casos.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afirma que a consulta não trará gastos extras de recursos públicos, porque usará a estrutura da eleição.
Para Valeriano Costa, professor de ciência política da Unicamp, há risco de uso eleitoral do plebiscito. “Os políticos têm de ser pressionados após a consulta. Se fica o consenso, sem debate, há apenas uso eleitoral da consulta.”
Caso se transformem em distritos, as regiões terão subprefeituras e subprefeitos, em vez de uma administração regional, como em outros bairros. Podem receber mais funcionários e serviços.
Para o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), o consenso quase absoluto entre os políticos “reflete o desejo da população”.
DESCONHECIMENTO
Nas duas regiões, no entanto, a população mal sabe que terá uma votação a mais em outubro. A dois meses e meio das eleições, apenas um entre mais de 20 moradores consultados pela Folha sabiam da consulta popular.
“Sou a favor, mas acho que não vai mudar nada”, disse o instrutor de autoescola Sérgio Murilo da Silva, 42, que mora no Campo Grande e trabalha no Ouro Verde.
Os que desconhecem o plebiscito se mostraram desconfiados. “As coisas têm de vir para melhorar, ou não adianta”, disse a dona de casa Denise Almeira, 54, há 19 anos no Campo Grande.