Gremista vende cadeira do Internacional ‘desviada’ do Beira-Rio

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DIÓGENES CAMPANHA, DE PORTO ALEGRE

Quem quiser sentar na cadeira de número 36 da fileira J do antigo Beira-Rio deve separar R$ 200 e se dirigir não à bilheteria do estádio, mas ao Brique da Redenção. Tradicional feira de antiguidades aos domingos no parque Farroupilha, em Porto Alegre, é considerada patrimônio cultural da cidade.

É lá que, entre um aparador de madeira dos anos 50, uma bandeja de maiólica e um boneco quebrado do personagem Johnny Bravo, está exposto o assento vermelho com o escudo do Internacional, dono da arena que está recebendo os jogos da Copa na capital gaúcha.

O vendedor da peça, o antiquário José Carlos Pereira, 58, é um dos 296 expositores do Brique. Ele diz que a cadeira chegou a seu acervo no início de maio pelas improváveis mãos de um torcedor do Grêmio, arquirrival do Inter.

“Eu disse: ‘bah, mas era sua a cadeira?’ Na verdade, a pessoa trabalhou nas obras [de reconstrução do Beira-Rio] e aí deve ter desviado. Tem coisa que é melhor nem perguntar”, afirma Pereira, que comprou a peça por R$ 80 do operário tricolor.

Cadeira do antigo Beira-Rio à venda em feira de antiguidades em Porto Alegre Foto de Diógenes Campanha/Folhapress
Cadeira do antigo Beira-Rio à venda em feira de antiguidades em Porto Alegre
Foto de Diógenes Campanha/Folhapress

Há 18 anos na profissão, ele diz que há vários motivos pelos quais uma pessoa vende artigos para um antiquário.

“Às vezes, a pessoa precisa de dinheiro ou vai viajar. Ou chega em casa e a mulher não gosta da peça. Tudo o que tu pode imaginar acontece.”

Embora não trabalhe com artigos esportivos, Pereira diz que ele e os colegas começaram recentemente a guardar itens relacionados ao tema para as edições do Brique que serão realizadas durante a Copa.

Tradicionalmente realizada apenas aos domingos, a feira será montada no parque Farroupilha durante todos os dias em que houver jogos do Mundial em Porto Alegre.

Entre os itens esportivos oferecidos por Pereira estão discos de vinil com as narrações dos gols do Brasil nos títulos de 1958, 1962 e 1970. Em outras bancas é possível encontrar flâmulas, camisas e um time de “minicraques”, bonequinhos da seleção que disputou a Copa de 1998.

O blog pediu que Pereira posasse para uma foto segurando a cadeira vermelha. Ele recusou. “Sou gremista.”

Ele diz que, mesmo que o assento fosse do estádio Olímpico, antigo campo do Grêmio, também só compraria a peça se fosse para revender.

“O que eu quero do Grêmio é que monte um time para ser campeão. Não quero saber de estádio bonito, se as contas do clube estão em dia. A gente quer é título. Faz anos que o time não ganha nada”, reclama.

Poucos minutos antes, o antiquário havia dito que o principais requisitos para ingressar em sua profissão são gostar de história é “ter um olhar para o passado”, características que ele renega quando o assunto é o time do coração.

“No futebol, vale o campeonato de hoje. O Grêmio foi campeão do mundo em 83. Não tinha nem telefone celular nem internet naquela época, então tu imagina como o mundo era outro.”