Oito curiosidades sobre o congresso da Fifa que definiu a sede da Copa de 1950
LUCAS REIS, DE MANAUS
Não fazia nem um ano que os japoneses haviam assinado sua rendição em um navio de guerra americano, quando representantes de 34 países se reuniram em Luxemburgo para discutir o futebol.
Era manhã de 25 de julho de 1946, início do 25º Congresso da Fifa, o primeiro desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
A reunião ficou famosa pela escolha do Brasil como sede da Copa de 1949, mais tarde alterada para 1950.
Mas a ata daquele congresso, enviada pela Fifa a pedido da Folha, revela outros detalhes históricos, como a mudança no nome da taça da Copa (que até então era chamada de “Vitória das Asas de Ouro”), o veto ao futebol alemão e japonês, a adesão da União Soviética e a má saúde financeira da entidade.
A reunião também definiu a volta das quatro federações britânicas após quase duas décadas, e a adoção do espanhol como um dos idiomas oficiais.
O encontro é considerado um dos mais importantes da história da Fifa, que realizou neste ano seu 64º congresso, em São Paulo.
A seguir, algumas curiosidades do encontro:
1) CLIMA DE GUERRA
O francês Jules Rimet, presidente da Fifa desde 1921 (e até 1954), recebe inúmeras homenagens dos cartolas, entre elas o batismo da taça da Copa, até então chamada de “Vitória das Asas de Ouro”, decidido por aclamação.
Um dos representantes espanhóis sugere ainda que Rimet seja agraciado com uma troféu gravado com nomes e emblemas das afiliadas da Fifa.
Um dos iugoslavos presentes diz que concorda com a ideia, mas lamenta que a proposta tenha vindo da federação espanhola –talvez um ressentimento à neutralidade da Espanha durante a guerra.
Rimet corta a discussão, e o cartola da Polônia a encerra, ao lembrar das perdas que seu país sofreu.
2) ACLAMAÇÃO
Também por aclamação, o Brasil é escolhido como sede da próxima Copa, em 1949, e a Suíça, da edição seguinte, em 1951.
Posteriormente ao congresso, a Fifa mudaria as datas (1950 e 1954), mas não os países-sedes. Um cartola da Checoslováquia sugere que a Copa seguinte ocorra em um pais eslavo –fato que até hoje não ocorreu.
3) LOBBY
As federações de Iugoslávia e Checoslováquia revelam que a União Soviética decidiu ingressar na Fifa.
E fazem lobby (apoiadas por Finlândia e Polônia) para que um russo seja escolhido um dos vice-presidentes da entidade, tendo em vista a posição daquele país na recém-criada ONU.
Jules Rimet propõe e consegue uma mudança no estatuto da Fifa para viabilizar a ideia. A mesma alteração decreta o retorno das quatro federações britânicas (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) à Fifa após quase duas décadas.
Pedido de filiação da Palestine Sports Federation, que reúne clubes árabes, é negado; a cúpula da Fifa argumenta que a Palestine F.A, composta por clubes judeus, já é filiada à Fifa.
Jules Rimet, porém, pede que a questão seja reavaliada no próximo congresso.
5) GUERRA FRIA
O congresso decide que as afiliadas da Fifa e seus respectivos clubes estão proibidas de manter relações esportivas com Alemanha e Japão, pois os dois países não possuíam, àquela altura, representação oficial no futebol.
6) NOVO IDIOMA
Proposta da Conmebol é aceita, e o espanhol passa a ser uma das línguas oficiais da Fifa.
7) OBRIGADO, LUXEMBURGO
O secretário-geral da Fifa, Ivo Schricker, encerra a ata agradecendo à federação de Luxemburgo pela receptividade e afirma que aquele havia sido um dos mais importantes congressos da entidade já realizados.
8) CRISE FINANCEIRA
Na apresentação das contas, o alerta sobre a má saúde financeira da Fifa.
Entre 1939 e 1945, a entidade sofrera um baque de 100 mil francos suíços, e dispunha apenas de 30 mil àquela altura.
A ordem é tomar medidas duras contra as federações devedoras –com exceção daquelas afetadas pela guerra.