Bósnio ‘baiano’ vira torcedor único

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JOÃO PEDRO PITOMBO, DE SALVADOR

Quando a seleção da Bósnia desembarcar para enfrentar o Irã no dia 25 de junho, pelo menos um torcedor estará no saguão do aeroporto de Salvador.

O designer gráfico Dinko Kundalic, 28, será esse abnegado. Muito tímido e de riso fácil, ele nunca foi louco por futebol. Mas como não tem notícia de nenhum outro conterrâneo que viva na Bahia, vai de bandeira na mão encarnar a Bósnia de chuteiras.

Dinko mora na Bahia desde agosto de 2011. Veio ao Brasil para conhecer pessoalmente a professora de inglês Milena Pontes, 32, com quem tinha contato pela internet. Casou-se dez meses depois e trocou a cidade de Zenica, na Bósnia, pelas praias de Lauro de Freitas, na Grande Salvador.

Nas vésperas da Copa do Mundo em solo brasileiro, enfrenta um desafio ainda maior do que o calor da Bahia: convencer amigos e parentes a virem ao Brasil para ver de perto os jogos da seleção da Bósnia.

Até agora, não teve sucesso: sabe que conterrâneos virão para a Copa, mas, que ele conheça, há no máximo alguns vizinhos.

Os preços para a aventura são o principal obstáculo. “Com a crise econômica na Europa, ficou difícil para a maioria da população bósnia fazer uma viagem como essa”, conta.

Um pacote para os três jogos da seleção da primeira fase –em que enfrentará Argentina, Nigéria e Irã– custa 10 mil euros (pouco mais de R$ 30 mil).

APOIO BRASILEIRO

Criada há 22 anos com o fim da antiga Iugoslávia, a Bósnia-Herzegovina foi palco de sangrentos conflitos armados nos anos 1990. Da época, Dinko não esquece a explosão de uma granada, que afetou parcialmente sua audição.

Os conflitos deixaram o esporte em segundo plano. Em sua primeira Copa do Mundo, a Bósnia é um país sem tradição no futebol. Mas tem uma população que respira o esporte e vê no Brasil a principal referência.

O futebol bósnio, conta Dinko, foge do padrão europeu e tem um estilo mais parecido com o brasileiro. E, a despeito de ser considerada uma zebra na competição, acha que o time do atacante Edin Dzeco, que joga no Manchester City, pode surpreender.

“Se conseguirmos vencer a Nigéria dá para chegar na segunda fase”, diz Dinko. A possível classificação viria na terceira partida da fase de grupos, contra o Irã. Justamente o jogo que será realizado em Salvador.

Está com os ingressos para o jogo em mãos e uma turma de brasileiros disposta a dar “aquela força” para a seleção da Bósnia. A família vai completa: mulher, sogro, sogra, cunhados, além de outros parentes e amigos da família.

Mesmo ao lado de uma turma bem brasileira, Dinko espera encontrar no estádio o maior número possível de conterrâneos. Se não exatamente para gritar e cantar, como os torcedores brasileiros, que seja pelo menos para matar um desejo recente: ter alguém por perto com quem falar sua própria língua.