Fugindo da ‘rodovia da morte’ pelos trilhos do trem

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PAULO PEIXOTO, NO INTERIOR DE MINAS

Viajar no único trem de passageiros diário a ligar duas regiões metropolitanas do país é um privilégio para poucos.

A avaliação é de usuários do próprio trem que conversaram com o blog, na semana passada, ao longo dos 218 km entre Ipatinga (MG) e Belo Horizonte.

Todo o percurso, administrado pela Vale, dona da ferrovia, dura 13 horas. Vai de Cariacica, na Grande Vitória, a BH, num caminho que existe desde 1907.

“É importante ter o trem, que, além de bom, tem segurança e qualidade”, diz Geraldo Soares, 80, que foi operador de locomotivas por 30 anos.

O blog encontrou o ex-maquinista na estação Intendente Câmara, em Ipatinga, onde embarcou rumo a BH. O atraso nesse dia foi de 35 minutos, mas nada que mudasse o humor desse mineiro de Rio Piracicaba.

A composição viaja a uma velocidade máxima de 67 km/h pelos 664 km de trilhos. Varia de tamanho dependendo do dia e da época do ano.

Por R$ 91 na classe executiva e R$ 58 na econômica faz-se todo o percurso. O preço cai partir de cada uma das 30 estações. De Ipatinga a BH, por exemplo, a passagem no vagão executivo custa R$ 49; no econômico, R$ 28.

O vagão executivo é todo fechado, tem ar-condicionado e é mais silencioso. No econômico, as janelas se abrem –o que agrada alguns passageiros.

“De janela aberta a gente pode ir olhando a natureza”, disse José de Souza, 88, pai de sete filhos, avô de 25 e bisavô de sete, que viajava com a mulher, Maria de Souza, 72.

TREM X ‘RODOVIA DA MORTE’

José havia estado em Caratinga (MG) para visitar a mãe, de 104 anos, que está doente. Preferiu gastar duas horas de ônibus até Ipatinga para pegar o trem para BH a se arriscar na BR-381, conhecida como “rodovia da morte”.

“Pegar o trem é mais barato, sem perigo e não têm trânsito”, afirmou.

No trecho BH-Vitória, o trem demora quase o dobro do tempo do ônibus. A natureza, porém, compensa –pela janela o cenário é de rios, montanhas e muita mata de cerrado.

“Sento e fico olhando a paisagem. É muito bom”, disse a estudante Graziele Souza, 20, que costuma ir a BH visitar o irmão.

A satisfação das pessoas com o serviço é alta, a julgar por pesquisa encomendada em 2013 pela Vale ao Instituto Futura. O levantamento apontou 83% de aprovação em relação a serviços e atendimento. Em segurança, a satisfação foi de 87%.

O casal de namorados Welington Mathé de Oliveira, 25, e Fernanda Altoé Caliari, 24, deu nota oito para a viagem. “Achei legal porque a toda hora estão limpando [os vagões]”, disse Fernanda.

Sentado no “vagão restaurante”, o casal pediu espaguete à bolonhesa. Já o blog arriscou um contrafilé com arroz, feijão, farofa, batata palha, alface e tomate. Por R$ 17, o prato ganhou uma nota seis –o ponto baixo foram os talheres de plástico.

As duas composições dessa estrada de ferro serão substituídas no segundo semestre, segundo a Vale. Os novos vagões terão TV e tomadas.

Apesar da composição moderna, usar o celular e a internet durante a viagem ainda dependerá da melhora do sinal das operadoras nas áreas rurais. Por enquanto, isso fica restrito a pequenos trechos próximos às estações.

Quanto à segurança, a nova composição também não deverá melhorar a situação em áreas da periferia de Belo Horizonte, onde o trem às vezes é alvo de pedradas. Por causa disso, sempre nos 20 minutos finais de aproximação à capital mineira, os passageiros são solicitados a fechar janelas e cortinas.