Conheça o perfil e a motivação dos haitianos que entram no Brasil
Uma pesquisa da PUC-MG traçou o perfil dos imigrantes haitianos que vivem no Brasil, com dados sobre formação, faixa etária, profissão anterior e principais destinos no país.
O trabalho foi divulgado na semana passada e teve como base registros administrativos e entrevistas com 340 haitianos, além de uma pesquisa qualitativa com imigrantes em cinco cidades.
Em linhas gerais, a maioria dos haitianos que vive aqui tem segundo grau incompleto e idade entre 25 e 34 anos, embora também haja bebês e idosos.
Os homens exercem funções técnicas na construção civil, enquanto as mulheres desempenham tarefas de nível técnico que não foram especificadas.
São Paulo é, de longe, a cidade que mais concentra esses imigrantes –cerca de 28% deles. A seguir, vêm Manaus e Porto Velho, na região Norte, escolhidas por cerca de 8% dos imigrantes cada uma. Três cidades da região Sul –Curitiba, Caxias do Sul (RS) e Cascavel (PR)– ocupam as posições seguintes.
Recentemente, a vinda de haitianos para São Paulo patrocinada pelo governo do Acre deflagrou uma crise entre os dois Estados, com acusações de preconceito e irresponsabilidade por parte dos governantes. Para os haitianos, São Paulo representa com frequência mais oportunidades de emprego.
As igrejas se tornaram pontos de concentração de imigrantes, como mostra a pesquisa, e têm importante papel na socialização. Em São Paulo, os haitianos vindos do Acre se concentraram na igreja Nossa Senhora da Paz, onde se formou uma “feira” de oferta de empregos.
O caminho de chegada ao Brasil passa quase sempre pelo Panamá. De lá, parte dos imigrantes seguiu direto para Belo Horizonte, Brasília ou São Paulo, enquanto os demais fizeram escalas no Equador e no Peru até entrar no Brasil pelo Amazonas ou pelo Acre.
Alguns dos entrevistados levaram até três meses para chegar ao Brasil e gastaram, em média, 2.900 dólares. Um dos fatores que contribui para encarecer as viagens são os intermediários, “coiotes” que facilitam a travessia, mas exigem dinheiro em troca.
Entre os motivos alegados para deixar o Haiti estão a busca por melhores oportunidades de trabalho e estudo, uma tentativa de ajudar a família que ficou para trás, o terremoto que devastou o país em 2010 e a violência.
“A vida lá no Haiti não está boa; não se pode viver em paz, não se tem possibilidade de ir ao hospital e não se tem segurança nas atividades; somos roubadas em nossos pequenos comércios”, disse uma haitiana, em Curitiba.
Mas nem tudo são flores no novo lar. Muitos se dizem frustrados pelas condições que encontraram ou mesmo arrependidos de terem saído do país.
É o caso de uma migrante que reside em Belo Horizonte. Ela conta que os “coiotes” exigiram sua casa no Haiti, deixando seus filhos desabrigados. Após dois anos no Brasil, ela afirma que ainda não conseguiu metade do dinheiro que esperava.
O trabalho, por sinal, nem sempre condiz com o que os haitianos esperavam encontrar. Além das dificuldades geradas pela língua, aqueles que têm qualificações nem sempre encontram empregos à altura de suas habilitações.
Também há reclamações sobre rotinas exaustivas e mal pagas. Um imigrante em Curitiba conta que trabalha há dois anos com carteira assinada e recebe apenas R$ 687.
Apesar das dificuldades encontradas, como a língua, as diferenças culturais, a falta de tempo e de dinheiro para o lazer e a distância de familiares e amigos, muitos afirmam gostar do Brasil.
É o que diz uma migrante em Belo Horizonte: “Às vezes, eu acordo chorando porque eu não vejo a minha família […], mas eu gosto muito daqui porque as pessoas daqui têm respeito para com a gente”.