Cidades ‘imortalizam’ políticos pelo país

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JULIANA COISSI, DE SÃO PAULO

Em 1822, antes de seguir viagem para Minas Gerais, o imperador d. Pedro 1º decidiu pernoitar no meio do caminho em uma fazenda na serra fluminense.

Ficou tão encantado com a beleza e o clima do lugar que comprou uma fazenda vizinha. Pouco mais de 20 anos depois, seu filho, o já imperador d. Pedro 2º, assinou decreto, em 1843, para fundar Petrópolis –do latim e do grego, literalmente, “a cidade de Pedro”.

Desde o Império, o Brasil está acostumado a ver espaços públicos serem convertidos em denominações de líderes políticos de cada época.

A prática é tão comum que, no dia a dia, nem percebemos. Por exemplo, lemos notícias de que um traficante perigoso foi levado para um presídio de Presidente Bernardes (SP) ou que muitos mineiros de Governador Valadares migraram para os Estados Unidos.

Do Amapá ao Rio Grande do Sul, o IBGE traz exemplos de cidades que, com ou sem a ciência dos moradores, reverenciam políticos.

Há no Brasil pelo menos 27 municípios que começam com a palavra “presidente”. São nomes que remetem desde a chefes de Estado da Primeira República (Epitácio, Venceslau) até a presidentes da ditadura militar, passando por Getúlio Vargas e Jânio Quadros.

Há “batismos” que se repetem. Presidente Juscelino é o nome de três cidades brasileiras, em Minas Gerais, no Maranhão e no Rio Grande do Norte, e Presidente Médici denomina duas localidades: uma em Rondônia e outra no Maranhão.

As homenagens não se limitam a políticos “tupiniquins”. Tocantins e Espírito Santo têm cidades chamadas Presidente Kennedy, uma alusão ao chefe de Estado americano assassinado em 1963.

Outros 12 municípios trazem a palavra “governador”, caso de Governador Mangabeira (BA) e Governador Celso Ramos (SC).

E a toada prossegue com homenagens a representantes do Legislativo: são 16 municípios com o nome “senador” –Senador Canedo (GO), por exemplo– e uma cidade com “deputado” (a cearense Deputado Irapuan Pinheiro).

Também há alusão a poderes locais. São 17 municípios com a alcunha “coronel”, sete com “capitão” e seis com “doutor”.

Acesso ao município de Edison Lobão, no interior do Maranhão Foto de Juliana Coissi/Folhapress
Acesso ao município de Edison Lobão, no interior do Maranhão
Foto de Juliana Coissi/Folhapress

O ilustre homenageado, na maioria das vezes, já não vive mais para colher os louros. Mas ainda há no Brasil casos de políticos vivos cujos nomes foram perpetuados com a denominação de uma cidade.

A prática, porém, é alvo de polêmica e chegou à Justiça. O exemplo mais recente é o de Governador Edison Lobão (MA), referência ao atual ministro de Minas e Energia, parceiro histórico da família Sarney no Estado.

Após ação movida pelo Ministério Público Federal em 2013, a Justiça em Imperatriz, cidade vizinha, determinou a mudança do nome –caso contrário, ficará impedida de receber verba federal.

Moradores desse município maranhense disseram recentemente à Folha que preferem a denominação de Ribeirãozinho, nome original do vilarejo convertido em cidade em 1994. “Para os antigos, o povo em geral, aqui se chama Ribeirãozinho. Meus filhos nascidos aqui conhecem assim”, diz o lavrador José da Silva.

A mudança consta de projeto de lei na Assembleia Legislativa do Estado, mas a Casa ainda não votou a medida. A assessoria do Legislativo diz que o projeto deve ser votado até o final deste semestre.