Filhotes órfãos ganham ‘mães’ de pelúcia no Amazonas

brasil

LUCAS REIS, DE MANAUS

Feridos, apreendidos, entregues pela população ou simplesmente encontrados vagando pelas ruas de Manaus, alguns animais carentes estão contando com um apoio mais que especial: o colo de mães de pelúcia.

Os bichinhos de pelúcia foram doados ao Ibama local por moradores da capital amazonense e até por pessoas de outros Estados, após campanha feita pelo órgão. Os brinquedos acabaram servindo como uma boa solução para os filhotes órfãos de macacos e preguiças.

“O contato ajuda a evitar estresse e depressão. É importante que os filhotes tenham a quem se apegar, simulando uma situação real do colo materno”, diz a analista ambiental Natália Souza Lima, à frente do trabalho no Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres), do Ibama.

Ela alerta, porém, que os bichinhos de pelúcia não substituem as mães verdadeiras. “Mas tentamos reproduzir uma situação. Assim como na vida real, os animais vão se desapegando dos bichos de pelúcia conforme crescem.”

Em uma das salas do Ibama há duas caixas lotadas de animais de pelúcia –alguns chegam com cartas de crianças– enviadas do Amazonas, de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Paraná. A campanha faz sucesso, mas a analista ambiental cita o crescimento inexplicável de órfãos acolhidos.

Neste ano, 44 filhotes já passaram pelo centro de triagem. Em todo o ano passado, foram 64. “Se chegam órfãos aqui, é porque alguma coisa aconteceu com os pais. E isso é o que preocupa. Nunca apareceram tantos filhotes. Aumentou a caça, o desmatamento? As pessoas estão mais conscientes e entregando os animais?”, questiona.

MAUS-TRATOS

Os animais silvestres acolhidos em Manaus sofrem de todo tipo de mazela: eletrocutados pela fiação, atacados por cães, atropelados na cidade ou em rodovias, contrabandeados, vendidos livremente em áreas rurais e até caçados para alimentação humana.

“Sem contar os casos em que são criados como animais de estimação de famílias. E, quando crescem, geralmente acabam abandonados”, diz Natália.

Ao todo, entre filhotes e adultos, mamíferos, aves e répteis (estes últimos, maioria no local), 523 animais foram recolhidos em 2013. Neste ano, são 181.

O Cetas abriga animais silvestres para tratá-los antes de uma destinação final. Porém são raros os bichos que voltam para a floresta. O crescimento e a experiência fora do habitat natural impedem que comportamentos fundamentais para a sobrevivência sejam desenvolvidos.

Por isso, a maior parte acaba indo para zoológicos, mantenedores de fauna, criadores autorizados ou centros de primatologia distantes da Amazônia, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país.

Dois macacos da espécie sauim-de-coleira, endêmica da região de Manaus e que aparece na lista dos ameaçados de extinção, em breve serão enviados para o zoológico de Bauru (SP).

“[No Amazonas] Faltam recursos para criar condições necessárias para se reabilitar e fazer a soltura dos animais silvestres na floresta. Em todo o Estado há apenas dois Cetas. Tem animais que estão aqui há meses, pois há dificuldade de se encontrar uma destinação ideal. É preciso uma atenção maior. A fauna nativa é patrimônio da União”, diz Natália.