Pesquisadores analisam veracidade de cartas de Chico Xavier
NATHÁLIA SOUZA, DE JUIZ DE FORA (MG)
Quando o estudante Jair Presente morreu afogado no interior de São Paulo, em 1974, aos 24 anos, a irmã dele foi com os pais até Uberaba (MG) para buscar notícias com Chico Xavier (1910-2002).
A partir desse encontro com Sueli, o médium escreveu uma sequência de 13 cartas atribuídas ao jovem.
Agora, 40 anos depois, uma pesquisa de pós-doutorado da Universidade Federal de Juiz de Fora, em parceria com a USP, confirmou que os dados contidos nessas cartas são verídicos.
“Os médiuns são conhecidos pelo repasse de informações às quais não teriam acesso normalmente. Por isso, a primeira coisa era avaliar se o que havia ali não era genérico”, diz o diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da UFJF, o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida.
“Quando alguém perde um ente querido, fica mais propício a aceitar aquelas ideias”, afirma.
Segundo Moreira-Almeida, orientador do estudo, Sueli Presente garantiu aos pesquisadores que não deu nenhuma informação a Xavier.
Ao analisar a primeira carta, o grupo encontrou referência ao avô do estudante.
“Aqui comigo estão o meu avô Basso e um coração de benfeitoria a quem chamo de Irmã Elvira”, diz a carta.
A citação é importante, segundo a pesquisa, não apenas porque o avô materno de Jair era conhecido por esse sobrenome, mas porque se refere ao fato de que ele também estava morto –Vicente Basso morreu em 1962. Já Elvira é uma tia do jovem, também falecida.
“Quando a irmã dele procurou Chico, teria dito apenas que havia perdido um irmão. Algumas informações, inclusive, nem os parentes dele sabiam e precisaram verificar a veracidade.”
Chico Xavier foi escolhido para a pesquisa, segundo o psiquiatra, por ser considerado um dos médiuns mais importantes do século 20.
“Existem relatos não comprovados de que ele produzia informações verdadeiras, mas não pesquisa científica. Como essas situações aconteceram há décadas e os familiares estão envelhecendo, sentimos a necessidade de fazer o estudo acadêmico”, diz.
Segundo a pesquisadora Denise Paraná, o grupo é interdisciplinar e tem pessoas de diversas vertentes religiosas e filosóficas. “Não é um grupo espírita. Há gente, inclusive, com uma forte formação acadêmica materialista, como eu.”
METODOLOGIA
Nas cartas, os pesquisadores selecionaram informações específicas para análise. Depois, entrevistaram familiares e pessoas que tiveram acesso aos fatos e consultaram recortes de jornal e outros documentos.
“Concluímos que, dos 99 itens de informação identificados, 97 eram dados verídicos e correspondentes a um fato real”, diz o psiquiatra.
Segundo ele, no entanto, o estudo não comprova que o conteúdo das cartas foi transmitido por alguém já morto, mas sim que as informações contidas ali são verdadeiras.
Para o psiquiatra, há fortes indícios de uma percepção extrassensorial de Xavier, “fato que continuará a ser analisado e que carece de estudos posteriores”.
Para a pesquisa, foram selecionados vários conjuntos de cartas do médium, e o grupo se prepara agora para as próximas publicações.