Brasil https://brasil.blogfolha.uol.com.br Histórias e personagens pelo país afora Thu, 28 Oct 2021 12:12:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Surddy, o palhaço surdo pernambucano que se comunica por Libras nos palcos https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2020/01/22/surddy-o-palhaco-surdo-pernambucano-que-se-comunica-por-libras-nos-palcos/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2020/01/22/surddy-o-palhaco-surdo-pernambucano-que-se-comunica-por-libras-nos-palcos/#respond Wed, 22 Jan 2020 12:04:56 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/surdo13-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=4037 Josué Seixas

MACEIÓ A ideia veio há dez anos. O pernambucano Igor Rocha, então com 21 anos, assistia a uma peça e não entendia quase nada. Surdo, pensou em desenvolver-se pela arte com o apoio da Libras para quem na plateia, como ele, não podia escutar.

Interessado em crescer enquanto artista, Igor investiu nos estudos. Da parceria com a diretora Andreza Nóbrega, atriz especializada em educação inclusiva, brotou o personagem de Igor, o palhaço Surddy.

Ideia do personagem surgiu há dez anos, quando assistiu a uma peça e não conseguiu entender os atores, por ser surdo

Assim também foi estabelecida a dinâmica de como seriam suas peças –um jogo de corpo, luzes e expressões com a plateia, misturados a um figurino colorido. Encontrou na arte circense o caminho para se comunicar sendo surdo, “porque as expressões visuais e corporais são mais valorizadas em Libras”.

Igor inspirou-se em Charlie Chaplin, Jim Carrey e Mr. Bean para contar suas histórias. Então, em seus espetáculos, existem apenas três sons: os movimentos de Igor, como quando corre pelo palco batendo os pés; as risadas de crianças e adultos; aplausos ao final.

“Decidi fazer peças totalmente acessíveis porque nós, como surdos, sofremos sem acessibilidade e perdemos informações. Já entendemos como é sentir espetáculos sem acessibilidade, por isso queremos que todo mundo se sinta incluído e feliz por ter oportunidade igual com as demais pessoas sem deficiência”, conta.

O artista já esteve em shows por Pernambuco, Ceará e São Paulo. Nas apresentações, há participação do público surdo. Alguns assistiram a mais de uma vez às peças.

A formação enquanto palhaço foi longa. Começou com a graduação em Letras-Libras, depois oficinas com Rapha Santacruz (mágico), Giulia Cooper (palhaça) e Marcelo Oliveira (artista), além do acompanhamento da VouVer Acessibilidade.

Para Igor, entretanto, esse é um caminho difícil porque há poucas oportunidades de formação – falta acessibilidade e acompanhamento. “Na minha vida, sempre tive dificuldades porque sociedade não está preparada para receber surdos nem entender as nossas necessidades. Por exemplo, ainda está em falta intérpretes de Libras em todos lugares e nos espaços culturais ainda são poucas as iniciativas. A falta de entendimento que a pessoa surda é capaz é uma grande obstáculo para que possamos viver e fazer arte”.

O ator na peça“A Chegada”, que atua com ajuda da Libras para compreensão do público surdo

No espetáculo, o cenário de Igor usa poucos elementos. Uma flor, uma cadeira, um vaso e uma mesa se destacam, além do cavalete que acompanha o Palhaço Surddy, que usa até mesmo o nariz vermelho clássico.
A peça, intitulada de “A Chegada”, apresentada em 2019, é para todos os públicos. Já rodou o Brasil – se apresentou em São Paulo, Recife e Fortaleza, por exemplo.

Ele agora vive em Arapiraca, interior de Alagoas, e trabalha como professor e ator. Sempre tem no rosto uma expressão serena, satisfeito em levar às pessoas alegria, sentimento e uma comunicação acessível.

“Meu objetivo é que todas as pessoas entendam que a inclusão precisa acontecer de verdade, que as pessoas ouvintes e surdas possam conviver, aprender juntas. É isso o que nós sentimos no processo de montagem e nos espetáculos do Surddy”.

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Menina salva livros da enchente em Pernambuco e comove país https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/06/06/menina-salva-livros-da-enchente-em-pernambuco-e-comove-pais/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/06/06/menina-salva-livros-da-enchente-em-pernambuco-e-comove-pais/#respond Tue, 06 Jun 2017 12:00:32 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3341 POR JOÃO PEDRO PITOMBO, EM SALVADOR

 

Ajoelhada em cima de uma jangada improvisada, Rivânia Rogéria dos Ramos Silva, 8, aperta a mochila contra o corpo, fecha os olhos e reza.

 

Obrigada a deixar a casa em que vive com os avós no povoado de Várzea do Una, na cidade de São José da Coroa Grande (PE), ela deixou roupas e brinquedos para trás e levou na mochila aquilo que considerava mais importante: seus livros e cadernos escolares.

 

A imagem de Rivânia abraçada à sua mochila em meio a um cenário de devastação causado pelas chuvas que fizeram transbordar o rio Una viralizou nas redes sociais e comoveu o país.

Rivânia Rogéria dos Ramos Silva, 8, com sua mochila – Crédito: Pel Lages/Divulgação

 

A foto foi tirada pelo prefeito da cidade, Pel Lages (PEN), que visitava comunidades atingidas pela chuva.

 

A Prefeitura de São José da Coroa Grande tem sido procurada por pessoas de todo o país que querem ajudar Rivânia e sua família com doações. A família ainda está providenciando a abertura de uma conta bancária para poder receber as doações.

 

A família, que mora numa pequena casa sem reboco pela qual paga um aluguel de R$ 150 por mês, perdeu móveis, fogão e geladeira. Os avós de Rivânia, Maria Ivone e Eraldo Luís, conseguiram salvar apenas a TV da casa. Na última sexta-feira (2), a família retornou à casa após o nível do rio baixar.

 

Em entrevista ao site “Blog do Tenório Cavalcanti”, Rivânia disse que teve “bastante” medo e que estava rezando, com os olhos fechados, no momento em que a foto foi tirada: “Estava pedindo para não morrer”.

 

As chuvas que atingiram Pernambuco e Alagoas na última semana deixaram 14 mortos, 51 cidades em estado de emergência e mais de 70 mil desabrigados e desalojados.

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As mulheres que lutaram contra a invasão holandesa, na batalha revivida em Pernambuco https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/05/05/as-mulheres-que-lutaram-contra-a-invasao-holandesa-na-batalha-revivida-em-pernambuco/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/05/05/as-mulheres-que-lutaram-contra-a-invasao-holandesa-na-batalha-revivida-em-pernambuco/#respond Fri, 05 May 2017 12:18:17 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3309 KLEBER NUNES

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Água fervente e pimenta foram os ingredientes da primeira participação feminina em um conflito armado no Brasil. A receita das mulheres de Goiana, zona da mata norte de Pernambuco, evitou a invasão holandesa à região em 1646.

No dia 24 de abril daquele ano, os militares europeus aproveitaram a ida dos homens de Tejucupapo ao Recife, onde os locais comercializavam caranguejos e moluscos, para invadir o distrito e saquear alimentos. Diante da ameaça estrangeira, conta a tradição oral, Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina lideraram a reação feminina no front em defesa do vilarejo.

 

Registros históricos afirmam que foram 600 invasores contra cem homens mais um número desconhecido de mulheres, outros dizem que o contingente foi de cerca de 300 holandeses e índios aliados. Todos concordam, porém, que com a ajuda das mulheres a vitória foi de Tejucupapo. O embate deixou centenas de mortos e feridos.

 

A história de resistência daquelas mulheres tocou a dona de casa Luzia Maria da Silva, 71, em 1984. Na época, ela estava em tratamento para a retirada de um câncer de mama. No leito, ouviu de uma professora a narrativa da batalha que mudaria sua vida nove anos depois.

Moradores de Goiana, zona da mata de Pernambuco, reencenam batalha contra os holandeses – Créditos: Divulgação

“Em 1993, fui internada em estado grave para a colocação de um marcapasso. Prometi que se saísse com vida contaria a história de Tejucupapo, onde eu nasci e criei meus sete filhos, para toda a cidade”, afirma Luzia Maria.

 

Com a saúde restabelecida, no Dia das Crianças daquele mesmo ano dona Luzia montou pela primeira vez a peça “As Heroínas de Tejucupapo”. Cumpriu a promessa.

 

A encenação de 30 minutos contou com a participação de 320 pessoas da própria cidade que ajudaram a fazer o figurino e o cenário.

 

Sem nunca ter pisado em um teatro e com apenas o ensino fundamental 1 completo, a dona Luzia diz que escreveu a peça com a ajuda de um livro chamado “Amor Nordeste”. Os textos escritos à mão foram interpretados em abril de 1994, na fazenda Megaó, na mesma data e local do conflito.

 

“Em 1995 e 1996 o prefeito da época [Osvaldo Rabelo Filho, do PMDB] proibiu a peça porque eu não votei nele. Sem o apoio para o cenário e o som não fizemos a encenação”, afirma. Em 1997, depois de ser homenageada pelo Assembleia Legislativa de Pernambuco, dona Luzia recebeu do gestor o pedido e o apoio para continuar com o espetáculo.

 

Em 2000, o cineasta Marcílio Brandão e o produtor cultural Amaro Filho doaram novos figurinos comprados com parte de um prêmio de cinema que venceram com o roteiro de “Tejucupapo, um Filme sobre Mulheres Guerreiras”.

 

As roupas foram usadas até 2014, último ano de apresentação da peça. A falta de apoio público provocou mais um hiato de dois anos nas encenações.

Mulheres usam roupas típicas da época para relembrar o episódio

“Este ano retomamos a peça, mesmo com a crise que vivemos as pessoas de Tejucupapo se disponibilizaram a ajudar, inclusive a prefeitura”, diz.
Donas de casa, agricultores, pescadores e estudantes encenaram no último domingo (30), pela 24ª vez, o conflito que marca o início da Insurreição Pernambucana. “O apoio do governo é importante, mas vimos que [os moradores] juntos podemos fazer a peça. Não vamos mais parar”, afirma dona Luzia.

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