Brasil https://brasil.blogfolha.uol.com.br Histórias e personagens pelo país afora Thu, 28 Oct 2021 12:12:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O dia em que um time do Paraná desbancou os gigantes soviéticos https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/01/21/o-dia-em-que-um-time-do-parana-desbancou-os-gigantes-sovieticos/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/01/21/o-dia-em-que-um-time-do-parana-desbancou-os-gigantes-sovieticos/#respond Mon, 21 Jan 2019 11:06:49 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/airton-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3790 Airton Donizete

MARINGÁ (PR) “Seleção Soviética vem disposta a esmagar o Galo”. Manchete do extinto “O Jornal”, de Maringá, no interior do Paraná, anunciava o confronto entre Grêmio Esportivo Maringá (GEM) e seleção da antiga União Soviética (URSS), em 13 de fevereiro de 1966.

O chamado “jogo do ano” reuniu mais de 20 mil pessoas , a capacidade máxima do Estádio Willie Davids, de Maringá, segundo a extinta revista Panorama, de Londrina. A preocupação com os soviéticos não era em vão. A equipe tinha no gol o lendário Lev Yashin, o Aranha Negra, considerado um dos melhores goleiros de todos os tempos, e o ponta direita Slava Metreveli, conhecido por “Garrincha russo”.

Time soviético em jogo no interior do Paraná, em 1966 – Revista Panorama/Reprodução

Os amistosos no Brasil serviam de preparação para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, na qual os soviéticos ficaram em quarto lugar. Em Minas Gerais, a URSS goleara o Atlético Mineiro por 6 a 1, vencera o Cruzeiro por 1 a 0 e o Uberlândia por 2 a 0. Mas o GEM venceu-os por 3 a 2, fazendo valer a fama da equipe do interior, que conquistara o bicampeonato paranaense e o tricampeonato do norte do estado.

Se os soviéticos tinham Yashin e Metreveli, o GEM tinha o zagueiro Roderley Geraldo de Oliveira, que comandava a defesa e permaneceu na cidade após encerrar a carreira. Ele recorda que os soviéticos tinham uma estrutura de fazer inveja. “No intervalo, por exemplo, eles beberam crusch e comeram pão com presunto, e a gente só tinha uma aguinha pra beber”, conta.

Maurício observado por Roderley, atrás, defende bola chutada por jogador russo – Revista Panorama/Reprodução

Outro destaque era o goleiro Maurício Gonçalves, que também vive em Maringá. A maioria dos ataques soviéticos que passava pela zaga parava nas mãos dele. “Ficamos emocionados com o estádio lotado nos apoiando com muita empolgação”, diz. “Do outro lado, víamos o lendário goleiro Yashin e o habilidoso Metreveli, mas acreditávamos que tínhamos condições de vencer e foi o que aconteceu”.

Para Maurício, não houve surpresa, enumerando os títulos que a equipe maringaense conquistara nos anos anteriores. Ele cita a boa fase do artilheiro Edgar, autor de dois gols contra os soviéticos. “Ficamos com receio porque era uma equipe muito forte, mas não baixamos a cabeça e fomos pra cima”, afirma Edgar, que está com 81 anos e mora em Ponta Grossa (PR).

O ex-goleiro Maurício exibe lembranças do jogo entre o time de Maringá e a seleção da antiga União Soviética – Foto: Airton Donizete/Folhapress

O advogado Alcides Siqueira Gomes, que morreu há dois meses, aos 71, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), não participou do jogo, mas vivenciou-o, não apenas porque esteve no Estádio Willie Davids naquele dia memorável, mas por causa de uma lembrança especial.

Colecionador de cédulas antigas, ele contou em entrevista à imprensa local em 2018 que se aproximara de Metreveli e, com ajuda de um interprete em inglês, lhe dissera que queria ter uma cédula russa de cem rubros para agregar a sua coleção.

O craque lhe prometera enviá-la. Em pouco mais de 30 dias, chegava pelos Correios na casa do advogado o presente do ídolo soviético. Siqueira guardava-a com carinho entre outras da sua coleção.

Com renda de 63 milhões de cruzeiros, Luiz Roberto abriu o placar aos 13 minutos do primeiro tempo para o GEM. Edgar ampliou aos 20; os russos reagiram. Serebriniev marcou aos 27, e Banichewski empatou aos 42 da primeira etapa. Edgar voltou a marcar aos 13 da fase final dando a vitória ao GEM.

O então governador do Paraná, Paulo Cruz Pimentel, enviou cumprimentos à diretora do GEM e ao prefeito Luiz Moreira de Carvalho pela conquista da equipe maringaense.

Equipe do GEM. Em pé: Roderley, Oliveira, Maurício, Edson Faria, Haroldo e Pinduca; agachados: Luiz Roberto, Célio, Edgar, Zuring e Valtinho. Revista Panorama/Reprodução
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A improvável sopa de leite e outras receitas europeias mantidas no Paraná https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2018/03/06/a-improvavel-sopa-de-leite-e-outras-receitas-europeias-mantidas-no-parana/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2018/03/06/a-improvavel-sopa-de-leite-e-outras-receitas-europeias-mantidas-no-parana/#respond Tue, 06 Mar 2018 12:00:16 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/nhoque-320x213.gif http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3566 Helena Carnieri

CURITIBA Uma médica de Curitiba fez seu casamento no interior do Paraná há 12 anos, na cidade do marido, em Santo Antônio do Sudoeste, e ficou surpresa com o cardápio: churrasco com cuca (bolo coberto com farofa doce).

Naquele momento ela era apresentada à culinária “da roça” sulista, em que não faltam animais inteiros no espeto ou “no buraco”, em congraçamentos que costumam ser muito masculinos, na avaliação do chef Flávio Frenkel, 49. “Querem a coisa ogra mesmo”, ele brinca.

Outros pratos sulistas têm grande influência de imigrantes europeus, especialmente italianos, alemães, poloneses e ucranianos.

Pois foi uma senhora com sobrenome italiano, Tereza Penazzo, de Araruana (PR), quem encontrou uma receita alemã numa revista e passou a fazer a improvável “sopa de leite” – espécie de canja batida no liquidificador à qual ela acrescenta leite, salsinha e frango desfiado.

Mais conhecido é o pierogi (para os poloneses) ou perohe (para os ucranianos). A trouxinha de massa que leva batata no recheio é amplamente consumida, disponível em qualquer feira gastronômica de rua em Curitiba e também encontrada em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Adaptações também são encontradas: “O prato saiu de Prudentópolis (PR) e ganhou molho de tomate em cidades italianas vizinhas, além do recheio de ricota”, conta Frenkel. Ele nunca esquece do pierogi com recheio de feijão que experimentou no oeste do Paraná.

Prato típico do litoral paranaense, o barreado é uma carne desfiada durante muitas horas em panela de barro, servida com farinha e banana. Faz a festa do turismo nas cidades históricas e é a única iguaria considerada exclusiva do Paraná.

Em matéria de ingrediente, uma semente. O pinhão é consumido a partir de abril, quando é emitida a autorização ambiental para colhê-lo dos pinheiros.

Vai bem cozido ou assado na chapa, mas também entra em pratos como ensopados e farofas. Sem falar nos doces: brigadeiro e marrom-glacê de pinhão não apenas existem como são apreciados.

A comida sulista não passa incólume à nova onda gourmet, em que os pratos ganham sofisticação mas também exotismo no encontro com ingredientes típicos de cada região.

O nhoque de abacate, receita do chef Paulo Gustavo Sartorio – Rony Delgado Siqueira/Divulgação

Foi o caso do “nhoque de abacate com molho de frango e café”, criado pelo chef Paulo Gustavo Sartorio, 25, de Arapongas (PR). Estimulado por um concurso da Secretaria de Estado da Cultura, ele lançou mão de produtos da agricultura do norte paranaense (abacate, frango, ovo e café) para fazer sua mescla.

O livro “Delícias do Paraná – Tradições e sabores da nossa terra”, organizado pela secretaria de Cultura do estado com 81 receitas típicas, registra tudo isso e ainda criações baseadas na típica comida da roça, como o porco pizza, boi na horta, frango invertebrado, frango na telha, leitoa fuçada e peixe na cerâmica. Entre as histórias, o livro traz a explicação da sopa de leite, que teria sido importada por Tereza Penazzo, de Araruana.

A publicação serve ainda de memória da imigração, compilando pratos como mazureck, sfregolá, varéneke (o pierogi dos russos…), tortei, haluski e até um “x-krakóvia”.

Para saber o que são e experimentar, uma opção é percorrer as rotas gastronômicas étnicas do estado.

 

SERVIÇO

“Delícias do Paraná – Tradições e sabores da nossa terra” – Secretaria de Cultura do Paraná.

O serviço de download gratuito do livro será lançado nesta semana, no site da secretaria.

 

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Limpeza nas Cataratas do Iguaçu reúne R$ 1.000 em moedas jogadas por turistas https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/12/08/limpeza-nas-cateratas-do-iguacu-reune-r-1-000-em-moedas/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/12/08/limpeza-nas-cateratas-do-iguacu-reune-r-1-000-em-moedas/#respond Thu, 08 Dec 2016 11:00:12 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3181 ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA

Uma limpeza feita no leito das Cataratas do Iguaçu, um dos pontos turísticos mais visitados do país, na fronteira do Paraná com a Argentina, retirou cerca de R$ 1.000 em moedas por turistas.

A vistoria foi feita por montanhistas voluntários, que usaram equipamentos de rapel para descer até o leito das quedas, abaixo das passarelas.

Moedas encontradas no leito das Cataratas do Iguaçu - Reprodução/RPC-TV Globo
Moedas encontradas no leito das Cataratas do Iguaçu – Reprodução/RPC-TV Globo

A quantidade de moedas surpreendeu a equipe: foram 40 kg delas, de países de todo o mundo –em especial, Brasil, Argentina e Paraguai.

Elas são jogadas por turistas, como superstição, mas a prática não é recomendada pela administração do parque. No leito do rio, as moedas viram lixo e contaminam a água. Aves e peixes têm o costume de engoli-las por engano. Muitos se engasgam e podem até morrer.

Grupo de voluntários que retirou moedas e lixo do Parque Nacional do Iguaçu - Divulgação
Grupo de voluntários que retirou moedas e lixo do Parque Nacional do Iguaçu – Divulgação

As Cataratas do Iguaçu são visitadas por 1,5 milhão de pessoas todo ano. Por dia, são 5.000 visitantes em média.

Os R$ 1.000 em moedas foram doados a um lar de idosos de Foz do Iguaçu.

A limpeza nas Cataratas é feita anualmente, por voluntários, no dia do rio (24 de novembro). No total, foram recolhidos 270 kg de lixo nas margens do rio Iguaçu.

Voluntários na retirada do lixo - Divulgação
Voluntários na retirada do lixo – Divulgação
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Dirley das cobras, o caçador de peçonhentas do interior do Paraná https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/10/21/dirley-das-cobras-o-cacador-de-peconhentas-do-interior-do-parana/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/10/21/dirley-das-cobras-o-cacador-de-peconhentas-do-interior-do-parana/#respond Fri, 21 Oct 2016 11:00:54 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3144 AIRTON DONIZETE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MARINGÁ (PR)

O comerciante Dirley Bortolanza, 52, de Mandaguari, cidade de 32 mil habitantes no noroeste do Paraná, se tornou uma celebridade. O motivo é inusitado: na casa dele há dezenas de serpentes acomodadas em caixas de madeira. Os reptéis chegam a ser colocados na mesa do café do manhã da família.

Ele captura cerca de 40 cobras por ano, a maioria cascavéis, espécie que, aliás, dá nome à cidade paranaense Cascavel, a 300 km dali, também com presença frequente do animal. Equipes de TV, jornalistas e curiosos o visitam com frequência em busca de informações sobre o hobby de coletar cobras.

Dirley Bortolanza, 52, com o filho e a mulher no café da manhã, acompanhado das cobras que captura - Foto: Airton Donizete/Folhapress
Dirley Bortolanza, 52, com o filho e a mulher no café da manhã, acompanhado das cobras que captura – Foto: Airton Donizete/Folhapress

Nascido em Mandaguari, Bortolanza começou a se interessar pelos répteis ainda menino. Ele capturava cobras pequenas, como jararaquinhas-dormideiras (sem peçonha), nos terrenos baldios da cidade, e as levava para casa.

Colocava-as em caixas de sapato e as deixava em exposição por alguns dias. As pessoas admiravam a coragem do menino. Adulto, ele percebeu que a prática tinha utilidade para a saúde pública na produção de soro contra possíveis picadas das cobras.

Em 1986, Bortolanza capturou a primeira cascavel numa caverna próxima à cidade e a enviou para a Secretaria da Saúde de Maringá. Daí em diante a captura de cobras se transformou em hobby. A secretaria lhe enviava caixinhas de madeiras, e ele as devolvia com as cobras.

Atualmente, ele não as captura no mato ou em cavernas, apenas quando é solicitado por moradores, que se deparam com os répteis no quintal de casa.

Até três anos atrás, o comerciante uma parte delas enviava ao Instituto Butantã de São Paulo, que custeava o transporte. Agora, entrega ao Ibama local, que faz a soltura do animal em matas da região –e assim evita que elas sejam mortas a pauladas pelos moradores.

‘MÃES’

Os pedidos de captura são muitos. Apenas em 2016, Bortolanza capturou 28 cascavéis, número que costuma aumentar com a chegada do verão.

Vez ou outra, ele se depara com corais, urutus, jararacuçu-do-brejo e cobras cipós, mas as cascavéis são abundantes na região.

Dirley Bortolanza, 52, mostra um dos répteis capturados - Foto: Airton Donizete/Folhapress
Dirley Bortolanza mostra um dos répteis capturados – Foto: Airton Donizete/Folhapress

As que estão prenhes precisam ser manejadas com cuidado para não perderem a cria. As cascavéis são ovovivíparas, e os ovos são chocados dentro da própria mãe, que pode armazenar espermatozoide do macho durante meses antes de fertilizar os óvulos.

Na casa de Bortolanza, há alguns meses, duas cascavéis deram à luz 26 e 18 filhotes. Os filhotes foram acomodados em caixas. Eles atingem a maturidade em cerca de dois anos. Como as adultas, elas se alimentam de ratos, que ele ganha de criadores de Maringá. Em média, cada serpente come um roedor a cada dois meses.

NO CAFÉ

Ele, no entanto, não é apenas um capturador de cobras. Diz que aprendeu a conviver com elas. Todos os dias, com Lucimar, a mulher, e o filho, Dirley toma café com as cascavéis sobre a mesa.

No começo, elas batem o guizo sem parar, mas vão se acalmando. O comerciante faz um gesto com as mãos como se fosse hipnotizá-las. “Elas me entendem”, diz. “É uma técnica que aprendi vendo filmes”.

A mulher, Lucimar, não vê com muita simpatia o hobby do marido. Ela diz que já se acostumou com os bichos, mas não gosta que ele as coloque na mesa da cozinha. “Sei lá, acho que o lugar delas não é aqui”, afirma. “Elas devem ficar dentro das caixinhas quietas”.

Dirley Filho elogia o pai. Para ele, Bortolanza, ao capturar cobras, salva-as, pois poderiam ser mortas por moradores. “Meu pai evita que sejam atacadas com paus e pedradas”.

Bortolanza afirma que nunca matou cobra. Às vezes, até salva alguma ferida por moradores. Uma cascavel, capturada, se recupera de um ferimento na cabeça. Segundo o comerciante, um morador de Mandaguari, assustado com a presença do bicho, tentou matá-la no quintal de casa. Não conseguiu e chamou-o. A serpente estava embaixo de um assoalho.

Para Bortolanza, há muito mito em torno das cobras. Lembra do quem imagina que elas voam, se enrolam no pescoço e enforcam a vítima, ou mesmo que mamam em mulher que está amamentando. “Tudo bobagem”, diz. “É um bicho pacato, que não ataca se não for provocado, pois seu objetivo é armazenar veneno para caçar e, em último caso, se defender”.

Algumas das cobras coletadas em quintal das casas no noroeste do Paraná - Foto: Airton Donizete/Folhapress
Algumas das cobras coletadas em quintal das casas no noroeste do Paraná – Foto: Airton Donizete/Folhapress

O hobby do pai motivou o filho, que se tornou biólogo e se prepara para cursar mestrado na área. Com 23 anos, Dirley Filho acredita que poderá desenvolver algum trabalho com os repteis.

Por enquanto, ele trabalha com química em uma empresa de Mandaguari, mas com o mestrado espera ajudar na preservação das espécies. “As cobras pelo menos em nossa região não estão em extinção, mas ninguém sabe como será no futuro”, diz o filho.

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Os boinas azuis do Paraná e os 60 anos da missão de paz no Oriente Médio https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/10/11/os-boinas-azuis-do-parana-e-os-60-anos-da-missao-de-paz-no-oriente-medio/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/10/11/os-boinas-azuis-do-parana-e-os-60-anos-da-missao-de-paz-no-oriente-medio/#respond Tue, 11 Oct 2016 12:00:27 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3137 DIEGO ANTONELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CURITIBA

José Carlos Pereira da Silva estava na sala de recreação do Exército quando ouviu o locutor do rádio anunciar os ataques de Israel sobre o Egito. Aos 18 anos, Pereirinha, como é conhecido, não tinha muita noção sobre as razões do conflito bélico que se estendeu por quase uma década. Sabia, apenas, que envolvia a disputa pelo Canal de Suez. O ímpeto da juventude o levou a se apresentar ao seu superior colocando-se à disposição para ir até o Oriente Médio.

“Queria me sentir útil”, afirma Silva, hoje com 79 anos, chamado na época de Pereirinha. Era outubro de 1956 –há 60 anos– e o conflito se intensificava. Seu superior rechaçou qualquer possibilidade de o Brasil adentrar no conflito. Mero engano.

Ao todo, sete soldados brasileiros morreram. Seis em acidentes e um durante ataque entre árabes e israelenses. Os boinas azuis, como são conhecidos, venceram o Prêmio Nobel da Paz em 1988, ao lado das Forças de Paz da ONU. O Ministério da Defesa informa que o Brasil já participou de 53 missões de paz. Dessas, 11 ainda estão em curso.

Devido às tensões impostas pela Guerra Fria, que poderiam desencadear conflitos entre soviéticos e norte-americanos, a ONU (Organização das Nações Unidas) montou naquele 1956 a Primeira Força de Emergência das Nações Unidas. Forças de paz foram preparadas e enviadas à região em janeiro do ano seguinte.

Pereirinha, que era da Polícia do Exército no Rio de Janeiro, foi um dos 80 primeiros brasileiros a desembarcar no Oriente Médio com a missão de paz à região. Após três dias de viagem, ele chegou à região para compor o grupo envolvido em desarmar minas e bombas.

Os boinas azuis  escalados para missões de paz nos anos 50 - Arquivo Pessoal
Os boinas azuis escalados para missões de paz nos anos 50 – Arquivo Pessoal

 

O Brasil foi um dos dez países convidados a participar da missão, juntamente com Canadá, Noruega, Finlândia, Índia, Colômbia, Dinamarca, Indochina, Suécia e Iugoslávia. Ao longo de uma década, o Brasil enviou 20 contingentes de tropas, num total aproximado de 6,3 mil militares.

Um mês depois, a tropa de Pereirinha precisava garantir segurança para a chegada do primeiro navio brasileiro que transportava 850 homens. “Sobrevoamos a área e avistamos três submarinos e um míssil teleguiado perto de onde o navio ia passar”, relata. Por rádio, comunicaram as tropas do navio para evitar qualquer sobressalto.

Nos primeiros meses, os bombardeios não cessavam e faziam a terra tremer. “Numa das patrulhas de jipe ficamos entre as tropas de Israel e Egito. Tivemos que nos jogar em trincheiras. Até quem não acreditava muito pedia proteção a Deus”, conta ele, que hoje mora em Ponta Grossa (PR).

EGITO

Quase um ano depois, Jauri Conrado Rodrigues desembarcou na cidade egípcia de Port-Said após 40 dias dentro de um navio. Lá ele enfrentou temperaturas escaldantes e tempestades de areia. “Eu era cabo do Exército e me inscrevi voluntariamente”. Tinha 19 anos e servia ao Exército em Prudentópolis, no interior do Paraná. Ele é um dos cerca de 400 paranaenses que foram ao front.

Jauri chegou a cuidar da rede ferroviária que a ONU fazia transporte de insumos para as tropas. “Tinha que monitorar a hora certa para o trem zarpar. A tensão era grande. A qualquer momento poderia ter ataque”.

Jauri Conrado Rodrigues, um dos boinas azuis do Paraná - Crédito: Diego Antonelli
Jauri Conrado Rodrigues, um dos boinas azuis do Paraná – Crédito: Diego Antonelli

Ele viu uma população sedenta e faminta. Mesmo que a ONU cuidasse dos refugiados, os soldados brasileiros também cediam algumas pratadas de arroz a quem implorava. “As crianças pediam água. Não tinha como não ficar triste com aquela cena”, afirma Jauri.

Os rasantes de aviões israelenses sobre o Egito eram constantes. “Era uma provocação e a gente ficava nos postos de observação monitorando”, diz. A provocação durou até o dia em que a Guerra dos Seis Dias estourou em 1967 e pôs fim aos trabalhos de paz na região.

 

Entenda a guerra

O conflito teve início quando o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, apoiado pela União Soviética, nacionalizou o Canal de Suez em 1956. A ação contrariava as pretensões econômicas de várias nações ocidentais, entre elas os Estados Unidos. Como retaliação, França e Inglaterra formaram uma espécie de coalizão com Israel e atacaram o Egito.

O canal era o principal escoadouro de petróleo dos países árabes para a Europa e ainda era responsável por fazer a ligação marítima mais curta entre vários países da Ásia, da África e da Europa. O envio das tropas de paz, entretanto, permitiu que o canal ficasse aberto.

O ponto final do conflito aconteceu na chamada Guerra dos Seis Dias, deflagrada em 1967, quando Israel atacou Egito. As tropas brasileiras não conseguiram escapar antes do conflito e ficaram no meio do caminho. Durante dois dias tiveram que redobrar os cuidados para não serem atingidos. Mesmo assim, um cabo brasileiro foi vítima de um disparo e morreu.

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Saiba o que acontece com o contrabando apreendido na fronteira com o Paraguai https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/09/27/saiba-o-que-acontece-com-o-contrabando-apreendido-na-fronteira-com-o-paraguai/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/09/27/saiba-o-que-acontece-com-o-contrabando-apreendido-na-fronteira-com-o-paraguai/#respond Tue, 27 Sep 2016 12:00:24 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3115 POR MARCELO TOLEDO, EM CIUDAD DEL ESTE (PARAGUAI)

A produção é industrial. De um lado, dois jovens cuidam de equipamentos importados, que em seguida são colocados por um terceiro operário em uma máquina. Do outro lado dessa “fábrica”, uma máquina embala outros produtos.

Só que, “cuidar”, no caso, é destruir, literalmente. Funcionários terceirizados contratados pela Receita Federal atuam diariamente na destruição de produtos apreendidos pela fiscalização na aduana existente na Ponte da Amizade, na fronteira do Brasil com o Paraguai, ou em cidades no entorno de Foz do Iguaçu.

E trabalho não falta. Óculos falsificados –alguns inclusive com graus–, relógios, roupas, CDs, DVDs, brinquedos e cigarros, muitos cigarros, fazem parte do dia a dia desses funcionários.

As apreensões feitas pela Receita Federal na região fronteiriça entre 2001 e este ano somam US$ 1,212 bilhão (ou cerca de R$ 4 bilhões). Só o volume de cigarros apreendidos chega a R$ 920 milhões.

Como a Folha publicou nesta segunda-feira (26), os sacoleiros quase desapareceram do cenário de Foz do Iguaçu e da vizinha paraguaia Ciudad del Este, em comparação a décadas atrás. Apesar de afetados por fatores como a alta do dólar nos últimos anos, a crise econômica no país, a concorrência do contrabando profissional, o risco de roubos nas estradas e o acirramento das fiscalizações, eles não foram extintos.

Os produtos apreendidos têm quatro possíveis destinos: doação, incorporação ao patrimônio da União, leilão ou destruição.

A última das possibilidades é utilizada quando os produtos são falsificados e, portanto, não poderiam ser comercializados de forma alguma. É o caso dos óculos, bebidas e, também, de roupas de grife.

“Bebidas falsificadas são destinadas a uma faculdade, que as transforma em álcool gel para ser usado em repartições”, disse a auditora Giovana Longo. Os cigarros também são embalados em fardos, enviados a um local em que são usados em caldeiras.

Já o leilão é realizado envolvendo itens apreendidos como veículos e computadores. Só os automóveis recolhidos nas fiscalizações entre 2001 e este ano por transportarem produtos contrabandeados somam R$ 1 bilhão.

A incorporação é adotada quando os materiais podem ter alguma utilização para órgãos do governo federal, como suprimentos de informática ou materiais de escritório, enquanto as doações são destinadas a entidades, que normalmente fazem os pedidos à Receita.

Segundo a auditora, anualmente são recebidos cerca de 4.000 ofícios de entidades de todo o país solicitando doações. Só são enviados produtos que estejam em conformidade com a legislação brasileira (brinquedos, por exemplo). Neste ano, o volume é menor, devido a restrições impostas pela lei eleitoral.

Diariamente, os funcionários que atuam no setor e, também, nas apreensões feitas em veículos levados à delegacia da Receita em Foz do Iguaçu são revistados ao deixar o trabalho.

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Primeiro brasileiro vacinado contra a dengue teve mais de 400 amigos infectados https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/primeiro-vacinado-contra-a-dengue-no-parana-teve-mais-de-400-amigos-infectados/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/03/primeiro-vacinado-contra-a-dengue-no-parana-teve-mais-de-400-amigos-infectados/#respond Wed, 03 Aug 2016 11:00:25 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3023
ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL A PARANAGUÁ (PR)

 

O paranaense Wallace Domingues, 35, perdeu a conta de quantos amigos tiveram dengue no último ano. “Ih, mais de 400”, afirma. Irmã, pai e cunhado foram infectados. Um de seus melhores amigos morreu pela doença.

Primeiro brasileiro vacinado contra a dengue, o próprio Domingues pegou o vírus duas vezes. “É uma dor de cabeça tremenda. Parece que não vai passar nunca”, diz. “E da segunda vez, é pior”.

O pintor industrial Wallace Domingues, 35, exibe sua carteira de vacinação. Ele foi o primeiro brasileiro vacinado contra a dengue em Paranaguá (PR) - Foto: Estelita Hass Carazzai
O pintor industrial Wallace Domingues, 35, exibe sua carteira de vacinação. Ele foi o primeiro brasileiro vacinado contra a dengue em Paranaguá (PR) – Foto: Estelita Hass Carazzai
 Morador de Paranaguá, cidade portuária no litoral do Paraná, ele inaugurou no último dia 26 a primeira campanha de vacinação pública contra a dengue no Brasil.
Serão aplicadas 500 mil doses, em 30 municípios do Paraná. Paranaguá teve uma das piores epidemias da sua história. Pelo menos 10% da população teve dengue, e 29 pessoas morreram.

“Foi a combinação perfeita para o mosquito: calor, chuva e umidade”, diz o prefeito Edison Kersten (PMDB), que também é médico.

 

Em Paranaguá, em três dias, o Aedes aegypti completava seu ciclo de vida, de ovo a inseto –normalmente, leva dez.

Um centro de emergência contra a doença foi montado. No pico da epidemia, mais de 1.500 pessoas eram atendidas por dia.

Paranaguá foi escolhida para o início da campanha de vacinação. Devido ao grau de incidência da doença, serão atendidas pessoas entre 9 e 44 anos –na maior parte das cidades, a vacina é restrita ao público entre 15 e 27 anos.

“[A vacina] é uma vitória muito grande. Mas a população também tem que botar a mão na cabeça e combater o mosquito”, diz Domingues.

Ele integra um grupo de voluntários que faz a limpeza da cidade e o combate aos focos de dengue. “Se não tiver consciência, não adianta”.

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