Brasil https://brasil.blogfolha.uol.com.br Histórias e personagens pelo país afora Thu, 28 Oct 2021 12:12:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Roraima tem recorde de nascimentos de bebês de mães venezuelanas em 2018 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2018/10/18/roraima-tem-recorde-de-nascimentos-de-bebes-de-maes-venezuelanas-em-2018/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2018/10/18/roraima-tem-recorde-de-nascimentos-de-bebes-de-maes-venezuelanas-em-2018/#respond Thu, 18 Oct 2018 13:19:43 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/1-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3729 Marcelo Toledo

BOA VISTA   A forte presença de venezuelanos em Roraima devido à migração em massa dos últimos anos fez serviços de saúde baterem recorde de atendimentos neste ano. Em apenas um semestre, já nasceram mais bebês de mães do país vizinho do que em 2017 inteiro, situação que se reflete também no principal hospital do estado.

Apesar de o governo do ditador Nicolás Maduro ter lançado um programa de repatriação e de o Brasil promover a interiorização de venezuelanos, Roraima, porta de entrada dos migrantes, concentra não só a presença dos estrangeiros, mas também as consequências.

A imagem que se vê nos principais cruzamentos da capital, Boa Vista, de até 15 venezuelanos ávidos por limpar os vidros dos veículos parados nos semáforos, se reflete na saúde e em outros serviços públicos.

Na maternidade estadual Nossa Senhora de Nazaré, de janeiro a junho 571 mulheres venezuelanas tiveram seus filhos no local, ante as 566 registradas em todo o ano passado.

Já no pronto-atendimento do HGR (Hospital Geral de Roraima), os atendimentos aos estrangeiros crescem a cada ano. O total passou de 628, em 2015, para 2.034 no ano seguinte e 6.383, em 2017. Neste ano, até julho, o total alcançou 9.699.

As internações seguem o mesmo ritmo: 684 neste ano, ante 579 em 2017, 244, em 2016, e 114, em 2015.

O tema, previsível, foi um dos que dominaram o primeiro turno da campanha eleitoral e, na avaliação de membros do governo de Suely Campos (PP), foi um dos motivos da não ida da governadora ao segundo turno –assim como a crise financeira no estado e a falta se solução para a interligação de Roraima ao sistema energético nacional.

A disputa para assumir o estado a partir de janeiro está entre Antonio Denarium (PSL) e José de Anchieta (PSDB).

“Vivemos dificuldade financeira, temos dificuldade sim, como o aumento da população de mais de 10% devido à migração venezuelana, sem termos aporte do governo federal”, afirmou a governadora.

Na educação, há 1.649 venezuelanos matriculados nas escolas estaduais. O cenário se repete na rede municipal.

DISPUTA

Roraima cobra R$ 184 milhões do governo federal pelos gastos que afirma ter registrado desde o início da migração, mas nada indica que haverá sucesso no pedido. O estado foi ao STF (Supremo Tribunal Federal). A fronteira chegou a ser fechada para tentar frear a entrada de venezuelanos, mas foi reaberta 15 horas depois.

Em agosto, o senador Romero Jucá (MDB-RR) disse ter deixado a liderança do governo por discordar do posicionamento da União sobre a questão dos venezuelanos.

Boa Vista tem hoje 10 abrigos instalados para acolhimento dos venezuelanos e deve criar mais unidades. Já em Pacaraima, cidade fronteiriça com a Venezuela, há 1 abrigo indígena e 1 abrigo temporário.

Eles comportam cerca de 5.000 pessoas, sendo 4.600 na capital e 400 na fronteira.

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A (quase) solitária viagem rumo a Venezuela a partir de Roraima https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/3196/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/3196/#respond Thu, 12 Jan 2017 11:00:05 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3196 POR MARCELO TOLEDO, EM PACARAIMA (RR)

Deserta. Nos pouco mais de 212 quilômetros entre a capital de Roraima, Boa Vista, e Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, apenas um ou outro táxi circulava. E, às margens da pista, somente alguns índios.

Esse cenário ocorreu no extremo norte do país por praticamente um mês, após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, fechar a fronteira entre os dois países em 12 de dezembro. Primeiro para veículos e pedestres, depois apenas para carros, caminhões e ônibus que cruzavam diariamente a fronteira entre Pacaraima e Santa Elena do Uairén.

Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas – Bruno Santos/ Folhapress

Além de fechar a fronteira, só “reaberta” no último dia 7, Maduro “desertificou” o trecho da BR-174 que liga a capital à Venezuela, por dois outros motivos.

O primeiro é que não há outras cidades populosas no trajeto, que corta em mais de 70 km a terra indígena São Marcos. O segundo é que Pacaraima não tem postos de combustíveis, já que a gasolina na Venezuela é muito barata, e o posto mais próximo fica em… Boa Vista.

Com isso, quem não tinha necessidade de usar a estrada deixou os veículos parados. Quem precisou, ou arriscou sofrer uma pane seca até chegar à capital ou comprou gasolina venezuelana que entrava no país por meio de motocicletas que usavam rotas ilegais para cruzar a fronteira, como a Folha mostrou.

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Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela – Bruno Santos/ Folhapress

A reportagem flagrou dois pontos de venda clandestinos de combustível em Pacaraima, um operando ao lado de uma mercearia e outro, numa borracharia. Nos dois locais, havia venezuelanos descarregando garrafões de água nos quais a gasolina é transportada.

O preço do litro chegava a R$ 6, valor superior à média de R$ 3,89 nos postos oficiais, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

“A Venezuela não tem comida, não tem emprego e o comércio vive enfrentando saques. É o único meio de conseguir algum dinheiro, com o fechamento da fronteira”, disse um vendedor venezuelano, que não quis se identificar.

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Em Santa Elena, onde ele compra o combustível, é possível encher o tanque de um carro com menos de R$ 3. Num posto imediatamente após a fronteira, brasileiros conseguem abastecer por R$ 1 o litro.

Não à toa, segundo a PF (Polícia Federal), gasolina é o produto mais apreendido na fronteira entre os dois países.

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Pastor prega em “portunhol” para venezuelanos em cidade fronteiriça em Roraima https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/08/pastor-prega-em-portunhol-para-venezuelanos-na-fronteira/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/08/pastor-prega-em-portunhol-para-venezuelanos-na-fronteira/#respond Mon, 08 Aug 2016 12:00:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3040 ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL A PACARAIMA (RR)

É quase meio dia em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela. Em meio às ruas cheias de venezuelanos que carregam arroz e farinha, o missionário Moisés Colares, 39, sua ao gritar ao microfone.

“La hambre está inundando Venezuela. La hambre está em toda parte. Y el hombre não pode fazer nada”, prega, em portunhol, misturando as palavras “fome” e “homem” em espanhol ao seu discurso. “Surretate, Venezuela! La única saída é mirar para arriba!”, diz, em menção a “acima”, para o céu.

Alguns venezuelanos ouvem de longe. A maioria nem para: continua a carregar os sacos de comida que compram na cidade, para combater a crise de abastecimento que assola o país.

Moises Colares, 39, missionário da Assembleia de Deus, prega em "portunhol" nas ruas de Pacaraima (RR) - Avener Prado/Folhapress
Moises Colares, 39, missionário da Assembleia de Deus, prega em “portunhol” nas ruas de Pacaraima (RR) – Avener Prado/Folhapress

Os venezuelanos invadiram o Brasil nos últimos meses em busca de comida, como mostrou a Folha. Vêm de todo o país para comprar arroz, farinha, açúcar e óleo, em falta por lá.

Pacaraima, cidade de 12 mil habitantes, fica colada à divisa com a Venezuela: a rodovia que leva à cidade termina no país de Hugo Chávez, demarcado apenas por barreiras policiais, com passagem livre.

Muitos venezuelanos moram em Pacaraima, ou atravessam a fronteira diariamente para trabalhar do lado brasileiro, e vice-versa. Os brasileiros costumavam invadir a cidade-gêmea de Santa Elena do Uairén para fazer compras –o que acabou depois da crise no país vizinho.

Os pastores, também, cruzam a divisa com frequência.

Na rua, Colares não desanima à aparente indiferença e continua a bradar: “Chávez morió [morreu]. Y donde está Chávez? Donde está Simón Bolívar? Clama y ele não escucha [escuta]! Deus és mayor que Chávez, mayor que Maduro, mayor que Venezuela!”

Moises Colares, 39, missionario da Assembleia de Deus, prega em "portunhol" nas ruas de Pacaraima para os venezuelanos que fazem compra no comercio brasileiro.
Grupo da Assembleia de Deus canta e faz pregações nas de Pacaraima para brasileiros e venezuelanos- Avener Prado/Folhapress0808

Membro da Assembleia de Deus, o missionário diz que o número de venezuelanos que se converteu está crescendo.

“Muitos têm reconhecido que precisam de Deus”, diz à reportagem. “Eu já trabalhei em penitenciária, nas ruas… A fome que está lá dentro [da Venezuela] é incomparável.”

A Assembleia de Deus tem cerca de 300 fieis em Pacaraima, boa parte venezuelanos –e uma congregação em Santa Elena do Uairén. “Já são 40 pessoas lá”, comemora Colares.

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