Brasil https://brasil.blogfolha.uol.com.br Histórias e personagens pelo país afora Thu, 28 Oct 2021 12:12:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A (quase) solitária viagem rumo a Venezuela a partir de Roraima https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/3196/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/3196/#respond Thu, 12 Jan 2017 11:00:05 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3196 POR MARCELO TOLEDO, EM PACARAIMA (RR)

Deserta. Nos pouco mais de 212 quilômetros entre a capital de Roraima, Boa Vista, e Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, apenas um ou outro táxi circulava. E, às margens da pista, somente alguns índios.

Esse cenário ocorreu no extremo norte do país por praticamente um mês, após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, fechar a fronteira entre os dois países em 12 de dezembro. Primeiro para veículos e pedestres, depois apenas para carros, caminhões e ônibus que cruzavam diariamente a fronteira entre Pacaraima e Santa Elena do Uairén.

Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas – Bruno Santos/ Folhapress

Além de fechar a fronteira, só “reaberta” no último dia 7, Maduro “desertificou” o trecho da BR-174 que liga a capital à Venezuela, por dois outros motivos.

O primeiro é que não há outras cidades populosas no trajeto, que corta em mais de 70 km a terra indígena São Marcos. O segundo é que Pacaraima não tem postos de combustíveis, já que a gasolina na Venezuela é muito barata, e o posto mais próximo fica em… Boa Vista.

Com isso, quem não tinha necessidade de usar a estrada deixou os veículos parados. Quem precisou, ou arriscou sofrer uma pane seca até chegar à capital ou comprou gasolina venezuelana que entrava no país por meio de motocicletas que usavam rotas ilegais para cruzar a fronteira, como a Folha mostrou.

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Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela – Bruno Santos/ Folhapress

A reportagem flagrou dois pontos de venda clandestinos de combustível em Pacaraima, um operando ao lado de uma mercearia e outro, numa borracharia. Nos dois locais, havia venezuelanos descarregando garrafões de água nos quais a gasolina é transportada.

O preço do litro chegava a R$ 6, valor superior à média de R$ 3,89 nos postos oficiais, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

“A Venezuela não tem comida, não tem emprego e o comércio vive enfrentando saques. É o único meio de conseguir algum dinheiro, com o fechamento da fronteira”, disse um vendedor venezuelano, que não quis se identificar.

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Em Santa Elena, onde ele compra o combustível, é possível encher o tanque de um carro com menos de R$ 3. Num posto imediatamente após a fronteira, brasileiros conseguem abastecer por R$ 1 o litro.

Não à toa, segundo a PF (Polícia Federal), gasolina é o produto mais apreendido na fronteira entre os dois países.

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Pastor prega em “portunhol” para venezuelanos em cidade fronteiriça em Roraima https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/08/pastor-prega-em-portunhol-para-venezuelanos-na-fronteira/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/08/pastor-prega-em-portunhol-para-venezuelanos-na-fronteira/#respond Mon, 08 Aug 2016 12:00:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3040 ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL A PACARAIMA (RR)

É quase meio dia em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela. Em meio às ruas cheias de venezuelanos que carregam arroz e farinha, o missionário Moisés Colares, 39, sua ao gritar ao microfone.

“La hambre está inundando Venezuela. La hambre está em toda parte. Y el hombre não pode fazer nada”, prega, em portunhol, misturando as palavras “fome” e “homem” em espanhol ao seu discurso. “Surretate, Venezuela! La única saída é mirar para arriba!”, diz, em menção a “acima”, para o céu.

Alguns venezuelanos ouvem de longe. A maioria nem para: continua a carregar os sacos de comida que compram na cidade, para combater a crise de abastecimento que assola o país.

Moises Colares, 39, missionário da Assembleia de Deus, prega em "portunhol" nas ruas de Pacaraima (RR) - Avener Prado/Folhapress
Moises Colares, 39, missionário da Assembleia de Deus, prega em “portunhol” nas ruas de Pacaraima (RR) – Avener Prado/Folhapress

Os venezuelanos invadiram o Brasil nos últimos meses em busca de comida, como mostrou a Folha. Vêm de todo o país para comprar arroz, farinha, açúcar e óleo, em falta por lá.

Pacaraima, cidade de 12 mil habitantes, fica colada à divisa com a Venezuela: a rodovia que leva à cidade termina no país de Hugo Chávez, demarcado apenas por barreiras policiais, com passagem livre.

Muitos venezuelanos moram em Pacaraima, ou atravessam a fronteira diariamente para trabalhar do lado brasileiro, e vice-versa. Os brasileiros costumavam invadir a cidade-gêmea de Santa Elena do Uairén para fazer compras –o que acabou depois da crise no país vizinho.

Os pastores, também, cruzam a divisa com frequência.

Na rua, Colares não desanima à aparente indiferença e continua a bradar: “Chávez morió [morreu]. Y donde está Chávez? Donde está Simón Bolívar? Clama y ele não escucha [escuta]! Deus és mayor que Chávez, mayor que Maduro, mayor que Venezuela!”

Moises Colares, 39, missionario da Assembleia de Deus, prega em "portunhol" nas ruas de Pacaraima para os venezuelanos que fazem compra no comercio brasileiro.
Grupo da Assembleia de Deus canta e faz pregações nas de Pacaraima para brasileiros e venezuelanos- Avener Prado/Folhapress0808

Membro da Assembleia de Deus, o missionário diz que o número de venezuelanos que se converteu está crescendo.

“Muitos têm reconhecido que precisam de Deus”, diz à reportagem. “Eu já trabalhei em penitenciária, nas ruas… A fome que está lá dentro [da Venezuela] é incomparável.”

A Assembleia de Deus tem cerca de 300 fieis em Pacaraima, boa parte venezuelanos –e uma congregação em Santa Elena do Uairén. “Já são 40 pessoas lá”, comemora Colares.

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