Brasil https://brasil.blogfolha.uol.com.br Histórias e personagens pelo país afora Thu, 28 Oct 2021 12:12:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Artista do interior de SP recria rota de tropeiros com mapas feitos à mão https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2021/04/19/artista-do-interior-de-sp-recria-rota-de-tropeiros-com-mapas-feitos-a-mao/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2021/04/19/artista-do-interior-de-sp-recria-rota-de-tropeiros-com-mapas-feitos-a-mao/#respond Mon, 19 Apr 2021 15:54:35 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/tropeiro10-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=4127 Lais Seguin

Piracicaba (SP) Com experiência na cartografia há mais de 30 anos, o artista plástico Francisco Stein, de Sorocaba (SP), decidiu criar à mão sete mapas ricos em detalhes para contar a história do tropeirismo no Brasil.

Ele aplica uma técnica autodidata que desenvolveu com o uso de materiais como nanquim sobre poliéster, tinta sem óleo e em pó e verniz fixador spray com proteção contra raios UV, umidade e intempéries.

Mapa de autoria de Francisco Stein, sobre a rota do tropeirismo brasileiro

No fim dos anos 80, enquanto trabalhava como projetista mecânico em uma empresa de São Paulo, resolveu começar a dar aulas de história (sua grande paixão, até então adormecida) em um colégio particular, como substituto.

“Não consigo imaginar uma aula de história sem mapas. Como no colégio não tinha, comecei a desenhar na lousa. Depois, passei a desenhar no papel vegetal e usar durante as aulas. Fiz isso por mais ou menos dois anos”, conta.

No entanto, Francisco precisou parar com as aulas quando surgiu uma oportunidade de emprego em outro estado. Ele viajava muito por causa do trabalho na área comercial, continuar com a paixão de estar na sala de aula se tornou inviável devido à falta de tempo.

Um dia, os horários exaustivos, imensas responsabilidades e a saudade da família, cobraram um preço. Desde 2014, se dedica integralmente à criação dos mapas feitos a mão.

Detalhes do mapa do tropeirismo andino, obra de Stein

Ele estuda e faz pesquisas desde o ano passado para que possa trazer vida às rotas traçadas pelos tropeiros, principalmente por Sorocaba, cidade em que mora e que foi protagonista da feira de muares, venda de mulas e burros trazidos dos pampas, ao sul do Brasil, para o transporte de ouro na recém descoberta Minas Gerais.

Para o projeto dar certo, o artista afirma que até precisou vender o carro para comprar os materiais necessários, devido à ausência de incentivos financeiros. Uma vaquinha online para arrecadar fundos e poder levar a produção até o final também foi realizada, com a meta de arrecadar R$82 mil. O valor se destina a utilização de livros consagrados do tema, documentos oficiais da época e entrevistas com diversos historiadores.

O artista plástico afirma que o maior desafio desta empreitada será conseguir inserir todos os elementos que ajudam a dar alto grau de didatismo aos observadores sobre o ciclo tropeiro. A ideia é que o conjunto de mapas, por si só, consiga explicar não apenas a geografia, mas os aspectos econômicos, culturais e políticos deste ciclo econômico do país.

Reprodução de Francisco Stein feita à mão do mapa de José Washt Rodrigues das diversas frentes de batalha da Revolução que pretendia derrubar o governo totalitário de Getúlio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte ocorrido entre julho e outubro de 1932

“Pretendo sair do básico, das linhas retas que apenas mostram a trajetória de um lugar para outro. Quero mostrar o momento histórico, o nível de altitude, relevo, arroios, rios, passos, vegetação, tudo rico em detalhes”, explica.

Ao final da produção dos mapas, que pode levar até dois anos, o artista doará reproduções ampliadas do material a escolas e universidades públicas, prefeituras e demais entidades interessadas.

Mapa atual feito a mão pelo Francisco, da divisão política do Brasil e outros detalhes (estradas, acidentes geográficos, etc.) permitidos pela escala utilizada. No sentido anti-horário, figuras decorativas alusivas aos principais ciclos econômicos; pau-brasil, cana de açúcar, ouro e pedras preciosas, borracha, cafeicultura e por fim o pré-sal (petróleo)

“Eu sempre quis fazer um mapa do caminho das tropas. Não existe nenhum mapa muito detalhado. A maioria é muito primário, impreciso ou fala muito superficialmente sobre o tropeirismo. Espero fazer um trabalho que reavive o interesse de jovens alunos, adultos e, quem sabe, nossas autoridades públicas”, diz​.

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Polo da fé, Trindade terá investimento de R$ 100 mi e busca ‘fixar’ turistas https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/11/28/polo-da-fe-trindade-tera-investimento-de-r-100-mi-e-busca-fixar-turistas/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/11/28/polo-da-fe-trindade-tera-investimento-de-r-100-mi-e-busca-fixar-turistas/#respond Thu, 28 Nov 2019 10:26:28 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/WhatsApp-Image-2019-11-26-at-18.25.57-320x213.jpeg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=4003 Marcelo Toledo

RIBEIRÃO PRETO   Cidade com vocação para o turismo religioso desde antes de sua emancipação, Trindade (GO) ganhou novos hotéis e condomínios e vai receber mais de R$ 100 milhões em investimentos com o objetivo de “fixar” os turistas que se deslocam à basílica do Divino Pai Eterno.

Além de um novo santuário, em construção desde 2012 –obra que deve ficar pronta na próxima década–, Trindade recebeu nos últimos anos dois novos hotéis, quase 2.000 chácaras em seis condomínios e viu um parque aquático com águas aquecidas entrar em operação, num mercado que cresce de olho nas 4 milhões de pessoas que a visitam anualmente.

Do total, cerca de 3 milhões participam da romaria do Divino Pai Eterno, dez dias de festa que incluem o primeiro domingo de julho em todos os anos. Só que essas pessoas, em sua maioria, visitam a cidade apenas rapidamente, e o objetivo de empresários ligados ao turismo e investidores é fazer com que esses turistas passem mais tempo no município.

No novo santuário, a previsão é que até o final do ano que vem os pilares estejam em fase avançada, segundo dados da Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno). Ela terá o que, por enquanto, será o maior sino do mundo –com peso de 55 toneladas, tem 4 m de altura e 4,5 m de diâmetro e foi produzido em Cracóvia (Polônia).

A cidade tem hoje 83 hotéis e pousadas em funcionamento, de acordo com a Agência Municipal de Turismo, e foco, claro, na vocação religiosa. Além do santuário, entre as atrações estão o Portal da Fé, a Igreja Matriz e a Rodovia dos Romeiros.

Foi com esse apelo religioso que surgiram nos últimos quatro anos seis condomínios com cerca de 2.000 chácaras e que levam nomes como Monte Sinai, Canaã, Galiléia e Monte das Oliveiras. Eles são vizinhos do Arca Parque –os nomes não são mera coincidência.

Uma parceria entre duas empresas agora busca expandir o complexo de chácaras com mais de R$ 100 milhões de investimento em três anos, valor que contempla dez novas atrações no parque aquático e um resort com 250 apartamentos.

O resort vai operar no esquema de multipropriedade –o dono do apartamento o utiliza algumas datas no ano, faz troca com outros hotéis do grupo gestor no país ou o deixa no pool para locação.

Gustavo Rezende, CEO do GR Group, um dos parceiros, disse apostar que o dólar nas alturas fará com que os turistas optem pelo turismo interno e, também, invistam com a queda na taxa Selic.

“Tivemos êxito em outros empreendimentos nos piores momentos, em anos péssimos na economia. A aprovação da lei de multipropriedade [em 2018] também incentiva a pessoa a investir. E lazer é algo que as pessoas têm buscado cada vez mais”, disse.

O parque aquático deve receber 100 mil pessoas neste ano, volume pequeno se comparado a Olímpia (SP), por exemplo, em que só um dos parques da cidade recebe 2 milhões de visitantes por ano, mas a meta em Trindade é chegar a 350 mil pessoas em três anos, segundo Rezende.

ORIGENS

Antiga Barro Preto, Trindade tornou-se um centro religioso ainda em meados do século 19, quando Constantino e Ana Rosa Xavier encontraram um medalhão de barro que representava a Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria enquanto roçavam o pasto, ao lado de um córrego.

A partir de então, Constantino e alguns familiares passaram a rezar o terço com o medalhão. Da reza surgiu uma capela coberta com folhas de buriti e, depois, outra.

Já em 1920, quando Trindade foi emancipada politicamente, a devoção ao Pai Eterno atraía multidões, que se deslocavam em romarias a cavalo ou em carros de boi.

“Trindade é uma capital da fé, hoje no Brasil atrás apenas de Aparecida, e precisamos atender esse público. Não é voltado para católico ou evangélico, mas queremos ter esse tema religioso por acreditarmos que assim será diferente. Muita gente faz bate e volta ou vai a Caldas Novas. A ideia é que eles fiquem em Trindade mais alguns dias”, afirmou José Roberto Nunes, CEO da Planalto Invest, a outra empresa que está investindo na cidade.

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Moacir e os aviões, ‘King Kong’ e animais gigantes em posto no interior de SP https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/09/18/moacir-e-os-avioes-king-kong-e-animais-gigantes-em-posto-no-interior-de-sp/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/09/18/moacir-e-os-avioes-king-kong-e-animais-gigantes-em-posto-no-interior-de-sp/#respond Wed, 18 Sep 2019 12:05:33 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/moacir11-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3976 João Lucas Martins

REGENTE FEIJÓ (SP) “Isso aí é tudo sonho. Minha vida é um sonho”. É assim que o empresário Moacir Adelino Barbosa, 65, explica sua excentricidade ao transformar um posto de combustíveis e restaurante em uma espécie de “point turístico” às margens da rodovia Raposo Tavares, em Regente Feijó, na região oeste do estado de São Paulo.

A ideia começou quando o movimento estava abaixo do esperado, em 2009 . Foi então que decidiu colocar do lado de fora do posto a réplica de uma girafa feita de gesso, confeccionada por um artista do Paraná.

“As pessoas começaram a parar para tirar fotos. Comprei mais réplicas e o ‘trem andou’. Fui investindo cada vez mais”, afirma Barbosa.

Hoje, o local conta com dois aviões de pequeno porte e um helicóptero reais, mas já fora de uso. Também há bois, carroças, cavalos, aves, um hipopótamo e até um grande King Kong, todos eles feitos de gesso e madeira.

Estátuas foram invenção de Moacir Adelino Barbosa, 65, pra atrair clientes

Com a quantidade cada vez maior de clientes o empresário transformou o local em em 2014 o local ganhou forma em um complexo que reúne hotel, padaria, lojas de móveis, de comida, roupas, sapatos, utensílios domésticos e decorações.

Durante sua vida, o empresário já teve altos e baixos, mas diz que nunca perdeu a vontade de empreender. Natural de Gardênia, distrito da cidade vizinha de Rancharia, Barbosa colhia algodão para seu pai, sem recursos para contratar trabalhadores que o ajudassem. “O normal de colher algodão é cerca de seis arrobas no dia. Eu colhia dez pra ajudar meu pai”.

O empresário dentro de uma das aeronaves que adquiriu

Quando mais velho, pegou gosto pela cozinha e surgiu a ideia de ter um negócio. “Eu falava que um dia eu ia montar um restaurante pra entupir o povo de comida, pra ter fartura. E deu certo”.

O último projeto do empresário é recente, a inaugurar em 2020. Ele pretende montar ao todo doze quartos de hotéis em dois boeings, que estão “estacionados” ao lado do posto à beira da rodovia, que são facilmente vistos pelos motoristas que passam pela estrada.

São dois modelos 727-200F, fabricados em 1978 e 1979, respectivamente. As aeronaves, com prefixos PR-RLJ e PR-IOG, eram, segundo Moacir, aviões de carga da empresa Rio Linhas Aéreas. Os aviões estavam parados e inutilizados em Curitiba (PR).

“Eu sempre gostei de avião. E sabe? O pobre não chega perto do avião. Vê só no aeroporto, e de longe”, disse Moacir.

Para Moacir, é o atrativo que chama o público para o comércio, e todo negócio deve ter um. “O Brasil tem que ser diferente. A gente já copiou muito. É difícil, mas eu procuro não copiar”.

Um dos aviões, da década de 70, comprados por Moacir para se transformarem em hotel
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A saga do juiz que reuniu 3.000 obras sobre Alagoas https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/08/08/a-saga-do-juiz-que-reuniu-3-000-obras-sobre-alagoas/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/08/08/a-saga-do-juiz-que-reuniu-3-000-obras-sobre-alagoas/#respond Thu, 08 Aug 2019 12:02:33 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/maceio-320x213.jpeg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3945 Wagner Chevalier

MACEIÓ A união de duas paixões –o direito e a história– motivou o juiz e historiador alagoano Claudemiro Avelino de Souza a iniciar uma “via-crúcis” à procura de livros raros em sebos locais e de outros estados.

Era um projeto pessoal para resgatar a memória da Justiça em Alagoas, mas, durante as pesquisas, algumas “gratas surpresas” revelaram outro caminho.

O resultado é que hoje sua coleção sobre o universo alagoano ou com escritores do estado já conta com cerca de 3.000 obras, do total do seu acervo, de cerca de 12 mil livros.

Entre as preciosidades, está ‘Terra das Alagôas’, obra de 1922, de AD. Marroquim, editado em Roma pela Editori Maglione & Strini, quando se celebrava o 4° Centenário do Descobrimento do Brasil. O livro é uma das obras preferidas, segundo ele, pela densidade de informações e riqueza de imagens.

‘Terra das Alagôas’ (1922), de AD. Marroquim

“Despertei para a formação de um acervo de obras produzidas por alagoanos e sobre Alagoas – de todo e qualquer gênero de literatura produzida desde o século 19. Tive gratas surpresas e sorte nessa caminhada, pois, fui refinando o olhar para obras raras e desconhecidas, e de autoria de historiadores, juristas, poetas e literatos de um modo geral.”

Dos escritores alagoanos que o juiz resgatou, está um exemplar de 1922 de “Judas Isgorogota”, pseudônimo do poeta e jornalista Agnelo Rodrigues de Melo (1898-1979). De 1922 a 1973, produziu pelo menos duas dúzias de livros de poesias, inclusive infantis, além da novela humorística João Camacho, editada em 1938 e da colaboração para jornais do estado e nacionais.

Obra de 1922 de “Judas Isgorogota”, pseudônimo do alagonao Agnelo Rodrigues de Melo

Também há espaço, nas estantes, para coletânea de 1959 de poetas alagoanos, como Jorge de Lima, Jayme de Altavilla, Goulart de Andrade, Sabino Romariz, Matheus de Albuquerque e Silvestre Péricles. E ainda para a História do Estado, na obra “Alagoas e a Revolução”, do ano de 1933.

Parte dos 3.000 livros que falam sobre o estado ou que foram escritos ou traduzidos por alagoanos

Entre as obras raras do universo jurídico, está a segunda edição (1871) do ‘Vade Mecum Jurídico’, de autoria de José Próspero Jeová da Silva Caroatá, nascido em Penedo, Alagoas (a primeira edição é de 1866). “É uma obra que foi utilizada em todo o Brasil e, pela sua importância, foi reeditado por quase 50 anos”.

A coleção conta, ainda, com uma das primeiras obras de âmbito nacional sobre Processo Civil, de autoria de outro penedense Francisco Ignácio de Carvalho Moreira, o Barão de Penedo, entre outras obras históricas.

Outa joia são os dois volumes do juiz Francisco Luiz Corrêa de Andrade, da antiga Alagoas do Sul (hoje município de Marechal Deodoro), que comentou o Código de Processo Criminal do Império do Brasil nos idos de 1880.

Além do universo jurídico, a coleção inclui obras como o “Tratado da Educação das Meninas”, obra de Fenelon, traduzida do francês pelo alagoano Silva Titara, e publicada em 1833; ‘O bispo do Pará e a missão à Roma’, que foi publicada em Lisboa, pelo Barão de Penedo, em 1887.

“Tratado da Educação das Meninas”, traduzido para o português pelo professor alagoano José Correia da Silva Titara, e publicado no Brasil em 1833

E, ainda, obras do gramático e poeta Alexandre Passos, considerado o “Pai da Filologia” alagoana, por trabalhos como o “Compêndio da Gramática Portuguesa” (1848); “Dicionário Gramatical Português” (1865); “Gramática Filosófica” (1871); e “Táboas Gramaticais das Desinências Latinas ou Compêndio Auxiliar para o Estudo Latim”(1869).

Ele guarda algumas das raridades em seu apartamento, na capital, Maceió. A maior parte, porém, preserva no sítio em Penedo, no Baixo São Francisco. Nesta cidade, em cuja comarca atua há cerca de 20 anos, ele construiu um ateliê para restaurar e garantir a conservação dos livros.

O plano, no futuro, é deixar o acervo disponível ao público na forma de uma biblioteca. O local ainda não foi definido. Entre as opções cogitadas, estão a Academia Alagoana de Letras e Artes de Magistrados, a Escola Superior da Magistratura e a Fundação Casa do Penedo.

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Estátua gigante de Santa Rita atrai fiéis no interior do Rio Grande do Norte https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/05/22/estatua-gigante-de-santa-rita-atrai-fieis-no-interior-do-rio-grande-do-norte/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/05/22/estatua-gigante-de-santa-rita-atrai-fieis-no-interior-do-rio-grande-do-norte/#respond Wed, 22 May 2019 12:02:21 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/santa-rita-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3887 Cledivânia Pereira

NATAL Conhecida como a santa das causas impossíveis, Santa Rita de Cássia dá nome a um santuário no interior do Rio Grande do Norte que anuncia ter a maior estátua da santa no mundo –devotos celebram hoje, 22 de maio, o dia de Santa Rita.

A estrutura de concreto, inaugurada em 2010, mede 56 metros de altura, sendo 50 m de estátua e o restante de pedestal. Não há comprovação oficial se é mesmo a maior do mundo, mas ultrapassa com folga a do Cristo Redentor (30 m só de estátua, além dos 8 m de base).

A Santa Rita gigante foi erguida com objetivo muito mais terreno que divino: alavancar o turismo religioso da pequena cidade de Santa Cruz, distante 111 quilômetros de Natal e que tem pouco mais de 39 mil habitantes.

Estátua mede 50 metros, fora os 6 m da base

Se a causa era impossível, Santa Rita conseguiu: hoje, nove anos após a conclusão das obras do santuário, o município teve a economia transformada em menos de uma década. Segundo dados da Secretaria de Turismo da cidade, a atividade já é a principal da economia local.

Em nove anos, o santuário recebeu cerca de dois milhões de visitantes, entre eles, turistas de 34 países. A rede de serviços da cidade praticamente triplicou.

Dos 604 leitos em hotéis e pousadas, 422 foram construídos após a conclusão do santuário. Treze dos 22 restaurantes também abriram as portas nos último nove anos e, hoje, empregam 167 pessoas com carteira assinada.

Hoje, no dia da Santa, mais de 80 mil pessoas são esperadas para a procissão de encerramento da festa anual, ou seja, o dobro da população da cidade.

“Desde o início da festa [13 de maio], não há vagas em nenhuma pousada ou hotel da cidade. E mais da metade dos leitos, já está reservada para o próximo ano”, diz o pároco do Santuário, padre Vicente Fernandes.

Essa peregrinação se dá muito mais pela curiosidade sobre a grandiosidade da obra do que por devoção à Santa Rita. De origem italiana, a santa passou a ser cultuada na região com a chegada dos primeiros moradores, por volta de 1800. A comunidade foi crescendo e ao se tornar cidade adotou Santa Rita como padroeira.

Sala dos milagres, criada no santuário em Santa Cruz (a 111 km de Natal)

Quem visita o local nem sempre sabe detalhes sobre a vida e obra de Santa Rita. “Fui atendida com uma graça que, para mim, parecia impossível. Vim agradecer, mas não sei maiores detalhes da história da Santa. O que sei, já é suficiente para ter fé”, diz a professora Edilaine Silva, 25, que aproveitava o feriado da Semana Santa para visitar o santuário.

A aposentada Severina Francisca da Silva, 72, também visitava a santa em excursão. O grupo vinha de João Pessoa (PB) e a viagem passava por outros locais de peregrinação no interior potiguar.

Edilaine Silva, 25 (de preto), com a família, no feriado da Semana Santa

Fé nordestina

O santuário ‘concorre’ na região com locais de peregrinações como Guarabira (PB) e Juazeiro do Norte (CE), que possuem estátuas de Frei Damião e Padre Cícero, dois representantes da religiosidade nordestina

A santa de origem europeia conseguiu atrair a atenção dos católicos não pela proximidade da obra religiosa, mas a partir da grandiosidade da obra física.

O monumento foi erguido no alto do Monte Carmélio, antigo ponto de peregrinação da cidade, e pode ser visto a uma distância de cinco quilômetros, atraindo a atenção de quem viaja pela BR 226, que cruza a cidade. Políticos e igreja se uniram para viabilizar o projeto que recebeu investimento de R$ 5 milhões do Ministério do Turismo, governo e prefeitura.

Os recursos possibilitaram a construção do Santuário e vias de acesso. Outros R$ 12 milhões estão sendo utilizados —também em convênio com o ministério do Turismo — para a implantação de um teleférico que vai ligar a estátua à igreja matriz, que fica no centro da cidade.

A expectativa de padre Vicente é que o novo equipamento esteja implantado em 2020, para comemoração dos dez anos do Santuário. “Nada é impossível para Santa Rita”, diz o pároco.
Santa Rita de Cássia

No Brasil, a devoção a Santa Rita de Cássia foi trazida pelos portugueses. Tanto que a imagem mais conhecida da santa é de origem portuguesa, com uma cruz na mão direita e uma palma na outra.

Nascida Rita Lotti, ainda no século 19, na Itália, Santa Rita de Cássia foi canonizada em 1900 pelo Papa Leão 13.

A tradição católica narra que Santa Rita casou-se contra a sua própria vontade. Mesmo assim, viveu com o esposo, que era um homem violento e envolvido nas brigas de família.

Depois da morte do marido e dos filhos gêmeos, entrou para o convento das irmãs agostinianas, em Cássia, na Itália.

Numa sexta-feira Santa, teria sido agraciada com um estigma na fronte (uma ferida, análoga à de Cristo na Cruz, segundo a tradição católica). A ferida a acompanhou até a sua morte, em 22 de maio de 1447. A primeira Igreja dedicada a Santa Rita no Brasil está no Rio de Janeiro e foi construída em 1710.

Fonte: CNBB

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Amapá inicia temporada do marabaixo, a dança dos escravos que virou marca do estado https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/05/08/amapa-inicia-temporada-do-marabaixo-a-danca-dos-escravos-que-virou-marca-do-estado/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/05/08/amapa-inicia-temporada-do-marabaixo-a-danca-dos-escravos-que-virou-marca-do-estado/#respond Wed, 08 May 2019 12:01:36 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/46678750375_5cf96dc9fc_z-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3876 Fernanda Canofre
MACAPÁ

Todo sábado de aleluia amanhece com fogos de artifício no céu da capital do Amapá e cantos de louvor à Santíssima Trindade, vindos do bairro da Favela. À tarde, ressoam os tambores, seguidos das vozes de cantadeiras que puxam versos dos ladrões –os cantos tradicionais que roubam histórias do cotidiano para colocar em música.

É a abertura do ciclo de marabaixo, mistura de dança, canto e expressão de fé, que começa na Semana Santa e segue até Corpus Christi.

A origem exata da tradição é desconhecida. No Amapá, ela chegou com os negros escravizados trazidos da África no século 18 para trabalhar na construção do Forte de São José de Macapá, em frente ao rio Amazonas.

Dizem que o passo curto e arrastando os pés, típico nas danças das marabaixeiras, lembra a dificuldade dos antepassados para se movimentar dentro dos navios onde eram mantidos acorrentados. E que o canto de lamento e o nome vêm de “mar abaixo” lembrando quem morria na viagem e era jogado ao mar.

“Os negros escravizados passaram a fazer promessas aos santos que consagravam, e quando a graça era alcançada se fazia um marabaixo. A herança foi deixada de pai para filho, e está associada ao fazer religioso do catolicismo popular em louvor a diversos santos padroeiros do Amapá”, conta Danniela Ramos, 40, presidente da Associação Cultural Marabaixo do Laguinho.

O bisavô dela, Julião Ramos, virou uma das figuras mais importantes dessa cultura. Nos anos 1940, quando o Amapá foi transformado em território federal por um decreto de Getúlio Vargas, a população negra que morava na parte central da cidade, em frente ao rio Amazonas, foi removida, dando origem a dois novos bairros: o Laguinho e a Favela.

DIVISÃO

Para o Laguinho, seguiu Julião. Para a Favela, Gertrudes Saturnino. Descendentes dos escravizados, cada um em seu bairro, mesmo divididos, os dois continuaram tocando o ciclo de marabaixo.

Danniela conta que cresceu em meio às caixas de marabaixo (os tambores), ouvindo ladrões e assistindo às rodas que eram montadas no pátio da casa da avó, Biló, filha de Julião. Aos oito anos, ela começou a cantar. Aos 13, criou um grupo para se apresentar na mostra da escola, mesmo enfrentando caras feias e piadas dizendo que a tradição era coisa “de preto”, “de velho”, “de macumbeiro”.

“Eu lembro que o marabaixo saía pelas ruas e as crianças iam à frente do cortejo. Meus primos se escondiam, tinham vergonha, porque quando chegavam na escola todo mundo ficava encarnando. Eu não. Eu sempre fui de ir à frente para carregar a bandeira do santo”, diz ela.

A maior referência viva do marabaixo hoje é Tia Zefa, 103. Josefa Lina da Silva e a família  estavam entre as pessoas que tiveram de escolher entre a Favela e o Laguinho quando Janary Gentil Nunes chegou como interventor do Amapá.

Ela aprendeu a cultura no berço. Em casa, só o pai não gostava da dança. Tia Zefa, quando lembra daquela época, usa sempre versos de ladrões para contar.

“‘Onde tu vai rapaz’, foi quando veio Janary pra cá. Não tinha governador, não tinha água encanada, não tinha luz. A gente tirava água do poço, trabalho era na roça. Ele veio para ser o governador e [o ladrão] diz assim: onde tu vai, rapaz?/por esse mundo sozinho/vou fazer minha morada lá nos campos do Laguinho”, diz ela, que vive no bairro desde então.

Os antepassados de Elisia Congó, 54, foram traficados do Congo para construir a fortaleza que segue às margens do Amazonas na capital. O avô, conhecido como tio Congó, famoso tocador de caixa de marabaixo e compositor de ladrões, também teve que sair de casa quando o Amapá virou território. Ele e a família seguiram então para a Favela.

Depois de uma graça, diz ela, o avô começou os festejos no bairro em homenagem à Santíssima Trindade dos Inocentes. Elisia acredita que se curou de uma catapora graças à fé da família. Hoje, ela é presidente e fundadora da Associação Cultural Raízes da Favela Dica Congó e cantadeira.

“[Sinto] alegria, felicidade [quando canto e danço] por estar representando meus ancestrais que resistiram a tudo e a todos e não deixaram essa cultura morrer.”

Na inauguração do novo aeroporto de Macapá, no dia 12 de abril, Elisia entregou ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) uma boneca marabaixeira. Ela e outros grupos fizeram uma apresentação de marabaixo no evento, onde entoaram músicas como “Rosa Branca Açucena”, um dos hinos da tradição.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que é judeu, disse à Folha que também costuma dançar o marabaixo. “É nossa tradição e nossas origens.”

Em novembro de 2018, o marabaixo foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil, por votação unânime do Conselho Consultivo do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Se juntou ao carimbó do vizinho Pará, à roda de capoeira, ao frevo e à arte Kusiwa, dos povos indígenas Wajãpi, do próprio Amapá.

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‘Parrilla’, o churrasco tradicional da Argentina e Uruguai, se populariza no RS https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/parrilla-o-churrasco-tradicional-da-argentina-e-uruguai-se-populariza-no-rs/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/04/24/parrilla-o-churrasco-tradicional-da-argentina-e-uruguai-se-populariza-no-rs/#respond Wed, 24 Apr 2019 12:17:35 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/parrilada-320x213.jpeg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3868 Paula Sperb

PORTO ALEGRE Comida típica do Rio Grande do Sul, com direito a data no calendário celebrada em 24 de abril, o churrasco preparado ao modo gaúcho (no espeto) tem ganhado um concorrente no estado: a parrilla (na grelha), como é chamado o assado tradicional na Argentina e no Uruguai.

A parrilla (pronuncia-se “parrija”, com o sotaque do espanhol falado nos arredores do Rio da Prata) tem conquistado adeptos não apenas entre os gaúchos, mas também em Santa Catarina e São Paulo, explica Douglas Nunes, 34, parrillero.

Nunes estudou na Escola Argentina de Parrilleros, em Buenos Aires, e está à frente do restaurante La Bodega, especializado no prato, na cidade de São Gabriel, a cerca de 300km de Porto Alegre, na região da campanha.

Douglas Nunes, de 34 anos, parrillero e organizador do I Concurso de Parrilla, em São Gabriel, na campanha gaúcha

São Gabriel fica em uma área considerada fronteiriça e foi a capital da “República Riograndense” durante a Revolução Farroupilha, em 1840. Essa proximidade com os países vizinhos colabora para a popularização da parrilla em território onde o churrasco predomina, explica Nunes.

“A resistência à parrilla não existe mais. Até pouco tempo o pessoal tinha desconfiança. Eram acostumados a salgar com sal grosso e deixar descansar antes de espetar. Quando viam a gente colocar sem sal na grelha e depois usando sal fino, questionavam se daria certo. Mas quando o pessoal experimenta, a resistência se torna curiosidade e querem aprender. Atualmente conheço pouca gente que assa no espeto, é mais no sistema de parrilla”, conta Nunes à *Folha*.

A principal diferença entre o churrasco gaúcho e a parrilla é a forma de assar. Enquanto o primeiro é preparado com carne espetada, o segundo é na grelha. “Não machucamos carne, não furamos. A gente tenta manipular a carne o menos possível”, explica o parillero.

Outra característica que distingue as duas formas de preparo é a fonte de calor. No churrasco há labaredas de carvão ou lenha. Já a parrilla conta apenas com a brasa. De acordo com Nunes, a brasa garante um cozimento mais uniforme de toda a carne. O churrasco, por sua vez, rende a famosa “casquinha”, consumida primeiro. Normalmente, a carne volta para o fogo para continuar o preparo do que seria a parte interna.

Participantes do I Concurso de Parrilla, organizado em São Gabriel,

A fama da parrilla em São Gabriel rendeu até mesmo um concurso no estilo “Master Chef”, o popular reality show de culinária. Em março deste ano, ocorreu o 1º Concurso de Parrilleros com oito equipes vindas de lugares como Uruguai e das cidades gaúchas de Santa do Livramento, Santa Maria e Santiago.

As equipes eram avaliadas por quesitos como ponto da carne, apresentação do prato, pontualidade, organização, comportamento e sabor. “Queríamos ver a criatividade e ficamos surpresos com a qualidade dos pratos”, explica.

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Chico Xavier, dinos e zebu impulsionam criação de geoparque em Uberaba (MG) https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/04/03/chico-xavier-dinos-e-zebu-impulsionam-criacao-de-geoparque-em-uberaba-mg/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/04/03/chico-xavier-dinos-e-zebu-impulsionam-criacao-de-geoparque-em-uberaba-mg/#respond Wed, 03 Apr 2019 12:00:38 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/Uberatitan-1-320x213.jpeg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3841 Marcelo Toledo

RIBEIRÃO PRETO    Lançado há dois anos em Uberaba (MG), um projeto que envolve paleontologia, religião e economia pretende impulsionar o turismo e dar à cidade mineira o título de geoparque.

Ancorado na religiosidade envolvendo o médium Chico Xavier, nos fósseis de dinossauros já encontrados no município e na forte pecuária graças ao gado zebu, a cidade já implantou três sítios ou geossítios dos cinco inicialmente previstos com o objetivo de convencer a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no futuro de que Uberaba atende os pré-requisitos para ter o título.

Um geoparque é uma localidade grande o suficiente para desenvolver a economia e a sociedade e deve, além de sítios geológicos relevantes, possuir história ou tradição cultural. O país tem só um reconhecido, no Ceará.

O objetivo do projeto é potencializar a vocação turística da cidade sob os alicerces da paleontologia, do gado zebu (de origem indiana, recomendado para a produção de carne e leite nos trópicos) e da religiosidade, principalmente por meio do médium Chico Xavier (1910-2002), maior ícone do espiritismo no país e que viveu e desenvolveu obras de caridade no município.

O projeto envolve, entre outras instituições, a UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), a ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) e a Prefeitura de Uberaba.

O primeiro dos locais inaugurados foi a praça do primeiro sítio integrante do projeto, o ABCZ, composto pelo Museu do Zebu, um museu a céu aberto no parque Fernando Costa e a sede da associação, que neste ano completa 100 anos.

Também já foram inaugurados o geossítio Peirópolis, distrito de Uberaba que abriga jazidas de fósseis de dinossauros e onde funciona um museu, e o sítio memorial Chico Xavier. O museu abriga acervo de fósseis de dinossauros e outros vertebrados, além de painéis sobre a evolução da vida. Ele funciona na antiga estação ferroviária de Peirópolis, de 1889.

“Quando surgiu a ideia, a partir da minha tese de doutorado, em 2014, elenquei 12 localidades para compor um roteiro turístico. Falamos em cinco no projeto, porém há potencial para muito mais. Mas a quantidade não preocupa, e sim sensibilizar o sentimento de pertencimento na população, de que as pessoas são parte disso”, disse um dos coordenadores do projeto, o geólogo da UFTM Luiz Carlos Borges Ribeiro.

O geossítio Peirópolis, que abriga museu em Uberaba (Luiz Carlos B. Ribeiro – UFTM)

O projeto separa geossítios de sítios. O primeiro é constituído de locais que se configuram patrimônio geológico explícito, como os fósseis de dinossauros, enquanto o segundo tem um significado mais amplo –como a casa de Chico Xavier, por exemplo.

Segundo a prefeitura, o geoparque dará muitos resultados futuros ao município com a indústria do turismo.

Há cerca de 140 geoparques mundiais da Unesco em 38 países. Não há prazo para a conclusão do projeto a ser enviado por Uberaba.

ÚNICO

Hoje, o Brasil tem apenas um geoparque “oficial”, o Geopark Araripe, no sul do Ceará, reconhecido pela Unesco em 2006.

Mas há ao menos outras duas dezenas de locais que têm potencial e podem no futuro ser contemplados com o título, segundo estudo elaborado pelo CPRM (Serviço Geológico do Brasil). Uberaba é um deles.

“Nenhuma outra localidade do Brasil tem essa junção de coisas, com patrimônio geológico, religioso e econômico. Mas não tem só Chico, zebu e dinossauros. Uberaba é muito forte em bens culturais e materiais, com suas folias de reis e congada, por exemplo”, disse Ribeiro.

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Gaúchos comemoram aprovação de emoji de chimarrão https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/02/14/gauchos-comemoram-aprovacao-de-emoji-de-chimarrao/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/02/14/gauchos-comemoram-aprovacao-de-emoji-de-chimarrao/#respond Thu, 14 Feb 2019 11:28:38 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/chimarrão-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3801 Paula Sperb

PORTO ALEGRE Usar aplicativos de conversa para marcar uma “mateada” ou “roda de chimarrão” ficará mais divertido para os adoradores da bebida. No início do mês, foi anunciada a chegada do emoji de mate aos smartphones. A imagem deve estar disponível entre três e seis meses para os sistemas Android e Apple.

Preparado como infusão com a erva-mate (Ilex paraguariensis) em uma cuia e com uma “bomba” para sorver o líquido, o mate tem propriedades estimulantes, como o café. A bebida é consumida especialmente no estado do Rio Grande do Sul e em países como Argentina, Uruguai e Paraguai.

A criação do emoji foi comemorada pelos gaúchos, que publicaram comentários nas redes sociais como “vou postar em tudo e toda hora”, “chegou nossa hora de brilhar”, “ninguém me segura” e “esse momento é todo meu, com licença”. Não há uma data exata para que o símbolo da cuia seja incorporado, o que deve ocorrer ainda neste ano.

“Tudo o que ajuda representar o chimarrão é positivo”, opinou sobre o emoji Márcio Luiz Matos Luz , que há 15 anos trabalha no Ponto do Chimarrão, loja do Mercado Público de Porto Alegre que vende 90 tipos de erva para a bebida.

Emoji de chimarrão criado por argentinos para smartphones – Reprodução

Embora os gaúchos estejam celebrando, a iniciativa partiu dos “hermanos” da Argentina, que apresentaram um projeto de quarenta páginas ao Unicode, consórcio formado por empresas como Adobe, Google e Apple e que desenvolve os emoticons para celulares.

“Pensei em qual emoji argentino poderia ser. ‘Choripan’ (pão com linguiça) que nós comemos? Milanesas com batata fritas? Cartas para jogar truco? Tinha que ser o mate, porque ele não é apenas argentino, é sul-americano”, explicou à Folha Florencia Coelho, jornalista do jornal La Nacion, de Buenos Aires, que liderou o projeto.

A oportunidade surgiu em meados de 2017 após um contato de Jennifer 8 Lee, integrante da ONG Emojination, que promove a diversidade nos caracteres. Além do mate, novos símbolos como cadeirantes, perna mecânica e cão-guia serão incluídos em 2019.

Florencia, então, mobilizou os designers Martín Zalucki e Emiliano Terranova. A eles se somaram Daniela Guini, Emiliano Panelli e Santiago Nasra. O grupo ganhou ajuda de voluntários do Hacks/Hackers Buenos Aires.

“Nós latinos somos muito amigáveis, companheiros, bem família. E, claro, muito ativos nas redes sociais. As pessoas se comunicam não apenas com texto, mas com emojis. Pensamos que as pessoas que tomam mate vão poder usar o emoji para lembrar de levar o mate, para combinar um encontro. É também um reconhecimento porque é o primeiro emoji sul-americano”, disse Florencia.

No Rio Grande do Sul, muitas vezes, marcar um encontro com amigos é sinônimo de “vamos tomar um chima”. O chimarrão é uma bebida compartilhada e, por isso, estimula a socialização.

“Ele tem essa magia da integração, tem essa capacidade de aproximar, unir, criar um bom ambiente e ajudar nas relações humanas”, opinou Pedro Schwengber, diretor do Instituto Escola do Chimarrão, ONG que divulga a bebida e ensina 36 maneiras diferentes de prepará-la.

Chimarrão com erva-verde da Yerba Mate Bar e Café, de SP – Foto: Keiny Andrade-27.fev.18/Folhapress

Schwengber explica que o chimarrão gaúcho é um pouco diferente do argentino, uruguaio e paraguaio, tanto na erva, como na cuia. E mesmo entre cada um desses países há diferenças. Por isso, todas essas características locais seriam difíceis de serem contempladas em um emoji único.

“Quando decidimos qual desenho usar, nos inspiramos no modo como os índios guaranis usavam. O espírito do mate estava ali. Depois pensamos se devíamos ter feito outro modelo, mas era difícil decidir se devia parecer mais com o chimarrão, do Brasil, ou mais para tererê, do Paraguai. Mas a decisão foi por buscar como faziam os índios nativos”, explicou Florência.

Quando o emoji finalmente chegar aos smartphones, Florencia sugere que todos latino-americanos combinem uma “mateada internacional” usando o simpático símbolo.

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O dia em que um time do Paraná desbancou os gigantes soviéticos https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/01/21/o-dia-em-que-um-time-do-parana-desbancou-os-gigantes-sovieticos/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/01/21/o-dia-em-que-um-time-do-parana-desbancou-os-gigantes-sovieticos/#respond Mon, 21 Jan 2019 11:06:49 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/airton-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3790 Airton Donizete

MARINGÁ (PR) “Seleção Soviética vem disposta a esmagar o Galo”. Manchete do extinto “O Jornal”, de Maringá, no interior do Paraná, anunciava o confronto entre Grêmio Esportivo Maringá (GEM) e seleção da antiga União Soviética (URSS), em 13 de fevereiro de 1966.

O chamado “jogo do ano” reuniu mais de 20 mil pessoas , a capacidade máxima do Estádio Willie Davids, de Maringá, segundo a extinta revista Panorama, de Londrina. A preocupação com os soviéticos não era em vão. A equipe tinha no gol o lendário Lev Yashin, o Aranha Negra, considerado um dos melhores goleiros de todos os tempos, e o ponta direita Slava Metreveli, conhecido por “Garrincha russo”.

Time soviético em jogo no interior do Paraná, em 1966 – Revista Panorama/Reprodução

Os amistosos no Brasil serviam de preparação para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, na qual os soviéticos ficaram em quarto lugar. Em Minas Gerais, a URSS goleara o Atlético Mineiro por 6 a 1, vencera o Cruzeiro por 1 a 0 e o Uberlândia por 2 a 0. Mas o GEM venceu-os por 3 a 2, fazendo valer a fama da equipe do interior, que conquistara o bicampeonato paranaense e o tricampeonato do norte do estado.

Se os soviéticos tinham Yashin e Metreveli, o GEM tinha o zagueiro Roderley Geraldo de Oliveira, que comandava a defesa e permaneceu na cidade após encerrar a carreira. Ele recorda que os soviéticos tinham uma estrutura de fazer inveja. “No intervalo, por exemplo, eles beberam crusch e comeram pão com presunto, e a gente só tinha uma aguinha pra beber”, conta.

Maurício observado por Roderley, atrás, defende bola chutada por jogador russo – Revista Panorama/Reprodução

Outro destaque era o goleiro Maurício Gonçalves, que também vive em Maringá. A maioria dos ataques soviéticos que passava pela zaga parava nas mãos dele. “Ficamos emocionados com o estádio lotado nos apoiando com muita empolgação”, diz. “Do outro lado, víamos o lendário goleiro Yashin e o habilidoso Metreveli, mas acreditávamos que tínhamos condições de vencer e foi o que aconteceu”.

Para Maurício, não houve surpresa, enumerando os títulos que a equipe maringaense conquistara nos anos anteriores. Ele cita a boa fase do artilheiro Edgar, autor de dois gols contra os soviéticos. “Ficamos com receio porque era uma equipe muito forte, mas não baixamos a cabeça e fomos pra cima”, afirma Edgar, que está com 81 anos e mora em Ponta Grossa (PR).

O ex-goleiro Maurício exibe lembranças do jogo entre o time de Maringá e a seleção da antiga União Soviética – Foto: Airton Donizete/Folhapress

O advogado Alcides Siqueira Gomes, que morreu há dois meses, aos 71, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), não participou do jogo, mas vivenciou-o, não apenas porque esteve no Estádio Willie Davids naquele dia memorável, mas por causa de uma lembrança especial.

Colecionador de cédulas antigas, ele contou em entrevista à imprensa local em 2018 que se aproximara de Metreveli e, com ajuda de um interprete em inglês, lhe dissera que queria ter uma cédula russa de cem rubros para agregar a sua coleção.

O craque lhe prometera enviá-la. Em pouco mais de 30 dias, chegava pelos Correios na casa do advogado o presente do ídolo soviético. Siqueira guardava-a com carinho entre outras da sua coleção.

Com renda de 63 milhões de cruzeiros, Luiz Roberto abriu o placar aos 13 minutos do primeiro tempo para o GEM. Edgar ampliou aos 20; os russos reagiram. Serebriniev marcou aos 27, e Banichewski empatou aos 42 da primeira etapa. Edgar voltou a marcar aos 13 da fase final dando a vitória ao GEM.

O então governador do Paraná, Paulo Cruz Pimentel, enviou cumprimentos à diretora do GEM e ao prefeito Luiz Moreira de Carvalho pela conquista da equipe maringaense.

Equipe do GEM. Em pé: Roderley, Oliveira, Maurício, Edson Faria, Haroldo e Pinduca; agachados: Luiz Roberto, Célio, Edgar, Zuring e Valtinho. Revista Panorama/Reprodução
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