Brasil https://brasil.blogfolha.uol.com.br Histórias e personagens pelo país afora Thu, 28 Oct 2021 12:12:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Não sei mais rir, diz alagoana que sobreviveu a ataque alemão na 2ª Guerra https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/06/18/nao-sei-mais-rir-diz-alagoana-que-sobreviveu-a-ataque-alemao-na-2a-guerra/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2019/06/18/nao-sei-mais-rir-diz-alagoana-que-sobreviveu-a-ataque-alemao-na-2a-guerra/#respond Tue, 18 Jun 2019 12:04:49 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/walderez-10-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3899 Josué Seixas

MACEIÓ Os olhos atentos e a voz pausada da alagoana Walderez Moura Cavalcante, 81, não deixam transparecer a memória da infância marcada pela Segunda Guerra Mundial. Ela diz ainda se lembrar do apito, da fumaça e da caixa de madeira que guardava leite condensado na qual se apoiou quando ficou no mar à deriva, aos quatro anos de idade.

No dia 17 de agosto de 1942, o navio Itagiba, em que ela e o pai estavam, foi torpedeado pelo submarino alemão U-507 no litoral baiano, próximo a Morro de São Paulo.  O episódio repercutiu no país. Pouco tempo depois, o Brasil entrava na Segunda Guerra Mundial.

Reprodução do navio Itagiba, foi torpedeado pelo submarino alemão U-507 no litoral baiano, próximo a Morro de São Paulo – Crédito: Divulgação

Walderez diz que pouco sorri desde o episódio, mesmo após sete décadas. “Eu sempre digo que não sei mais rir. Há uns 15 anos eu não conseguia falar sobre essa história, nem relembrar, só chorava”.

A menina Walderez viajava com o pai Otávio, do Rio de Janeiro para Maceió. Conta que não conseguiu perceber muito do bombardeio, só o desespero do pai, as instruções quando foi jogada ao mar. Diz se recordar da demora do resgate e das próprias mãozinhas segurando a caixa com todas as forças, os destroços da embarcação.

A sobrevivente conta que estava no navio e, ao ser atacado, correram para uma baleeira (bote salva-vidas). “Deixaram uma caixa de leite condensado vazia dentro dessa baleeira. O mastro do navio, com o bombardeio, partiu a baleeira ao meio. Só que, antes de isso acontecer, alguém me sentou dentro do caixote, disse: ‘Segure. Não solte’, e me jogou ao mar. Não lembro mais de coisa alguma”.

Walderez, resgatada, com o pai no hospital

Além do Itagiba, o navio Arará, que estava logo atrás, também foi bombardeado. O resgate veio horas depois, com outro barco, o Aragipe, embarcação grande que recolheu os sobreviventes. No meio deles estava Otávio, pai de Walderez.

Até ali, ninguém sabia onde a menina estava. ‘Me joguem na água’, disse Otávio, ‘porque não quero sobreviver’. Motivadas pelo desespero do pai, as buscas continuaram.

“Foi quando avistaram, muito longe, uma coisa boiando e não sabiam o que era. Foram atrás e, quando chegaram lá, surpresa: eu estava dentro da caixa de leite condensado”.

Demorou muito, entretanto, para que pai e filha se encontrassem. Nenhum sabia que o outro estava vivo e talvez continuasse sem saber, não fosse uma fratura sofrida por Walderez, quando caiu de uma escada na casa do prefeito de Valença-BA.

“Quebrei o braço e não havia tratamento na cidade. Quando fui ao hospital português, lá estava o meu pai. Ali, sim, eu fiquei feliz. Meu pai, para mim, era tudo na vida. Meu pai era meu porto seguro, era tudo o que pudesse imaginar”.

Jornal da época registra ataque e estampa foto de Walderez criança, à direita, com uma freira

Walderez voltou para Maceió um pouco depois, e o pai seguiu em tratamento. Dentro da casa da família Cavalcante, o assunto se tornou proibido. “A recomendação dos médicos era de que não falasse. Eu fui proibida de falar. Na minha casa, ninguém falava. Ninguém chegava e conversava. Na época, era assim: conversa de mais velho, criança não escuta. Se a conversa era aqui, a gente passava por lá”.

Nem os colegas da faculdade que cursou, de psicologia, nem os amigos do trabalho no INSS souberam do episódio.
“Por causa de um trabalho [de faculdade] da minha sobrinha, comecei a contar. E daí comecei a desenrolar a coisa, comecei a falar e, de falar, a coisa foi melhorando. Não é que tenha passado. Não passou. Só melhorou bastante”.

Dez anos depois, ela salvou-se de mais um acidente quando a família foi morar no Rio de Janeiro. Algo a impediu de ir com a mãe, um irmão e uma irmã para Anchieta, no dia 4 de março de 1952. Foram 119 mortos e aproximadamente 250 feridos no acidente ferroviário. A mãe e o irmão morreram; a irmã ficou em estado grave no hospital Getúlio Vargas.

“Meu propósito… Não sei. É muito difícil. Por que Deus lhe coloca uma situação, lhe livra de algo que não temos pelo que chorar, porque ninguém vai atender, ninguém a pedir socorro, e de repente lhe devolve a vida? Por quê? Não sei. Dá para entender o que aconteceu, se acreditar que tem algo superior que traça a sua vida. Eu acredito. Acredito muito em Deus”.

A sobrevivente da tragédia, hoje, com 81 anos, em Maceió – Crédito: Josué Seixas/Folhapress

Ainda assim, seguiu com a vida. Atuou como psicóloga até se aposentar. Casou-se com Genésio, falecido há 13 anos, e criou três filhas.

Fica quase o dia inteiro fora de casa, entre atividades do coral, saídas com a filha e com as amigas. Setenta anos depois, chegou a visitar a praia onde foi resgatada na infância e que teve papel decisivo na entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Mas nunca mais entrou no mar.

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Roraima tem recorde de nascimentos de bebês de mães venezuelanas em 2018 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2018/10/18/roraima-tem-recorde-de-nascimentos-de-bebes-de-maes-venezuelanas-em-2018/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2018/10/18/roraima-tem-recorde-de-nascimentos-de-bebes-de-maes-venezuelanas-em-2018/#respond Thu, 18 Oct 2018 13:19:43 +0000 https://brasil.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/1-320x213.jpg https://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3729 Marcelo Toledo

BOA VISTA   A forte presença de venezuelanos em Roraima devido à migração em massa dos últimos anos fez serviços de saúde baterem recorde de atendimentos neste ano. Em apenas um semestre, já nasceram mais bebês de mães do país vizinho do que em 2017 inteiro, situação que se reflete também no principal hospital do estado.

Apesar de o governo do ditador Nicolás Maduro ter lançado um programa de repatriação e de o Brasil promover a interiorização de venezuelanos, Roraima, porta de entrada dos migrantes, concentra não só a presença dos estrangeiros, mas também as consequências.

A imagem que se vê nos principais cruzamentos da capital, Boa Vista, de até 15 venezuelanos ávidos por limpar os vidros dos veículos parados nos semáforos, se reflete na saúde e em outros serviços públicos.

Na maternidade estadual Nossa Senhora de Nazaré, de janeiro a junho 571 mulheres venezuelanas tiveram seus filhos no local, ante as 566 registradas em todo o ano passado.

Já no pronto-atendimento do HGR (Hospital Geral de Roraima), os atendimentos aos estrangeiros crescem a cada ano. O total passou de 628, em 2015, para 2.034 no ano seguinte e 6.383, em 2017. Neste ano, até julho, o total alcançou 9.699.

As internações seguem o mesmo ritmo: 684 neste ano, ante 579 em 2017, 244, em 2016, e 114, em 2015.

O tema, previsível, foi um dos que dominaram o primeiro turno da campanha eleitoral e, na avaliação de membros do governo de Suely Campos (PP), foi um dos motivos da não ida da governadora ao segundo turno –assim como a crise financeira no estado e a falta se solução para a interligação de Roraima ao sistema energético nacional.

A disputa para assumir o estado a partir de janeiro está entre Antonio Denarium (PSL) e José de Anchieta (PSDB).

“Vivemos dificuldade financeira, temos dificuldade sim, como o aumento da população de mais de 10% devido à migração venezuelana, sem termos aporte do governo federal”, afirmou a governadora.

Na educação, há 1.649 venezuelanos matriculados nas escolas estaduais. O cenário se repete na rede municipal.

DISPUTA

Roraima cobra R$ 184 milhões do governo federal pelos gastos que afirma ter registrado desde o início da migração, mas nada indica que haverá sucesso no pedido. O estado foi ao STF (Supremo Tribunal Federal). A fronteira chegou a ser fechada para tentar frear a entrada de venezuelanos, mas foi reaberta 15 horas depois.

Em agosto, o senador Romero Jucá (MDB-RR) disse ter deixado a liderança do governo por discordar do posicionamento da União sobre a questão dos venezuelanos.

Boa Vista tem hoje 10 abrigos instalados para acolhimento dos venezuelanos e deve criar mais unidades. Já em Pacaraima, cidade fronteiriça com a Venezuela, há 1 abrigo indígena e 1 abrigo temporário.

Eles comportam cerca de 5.000 pessoas, sendo 4.600 na capital e 400 na fronteira.

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A (quase) solitária viagem rumo a Venezuela a partir de Roraima https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/3196/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/3196/#respond Thu, 12 Jan 2017 11:00:05 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3196 POR MARCELO TOLEDO, EM PACARAIMA (RR)

Deserta. Nos pouco mais de 212 quilômetros entre a capital de Roraima, Boa Vista, e Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, apenas um ou outro táxi circulava. E, às margens da pista, somente alguns índios.

Esse cenário ocorreu no extremo norte do país por praticamente um mês, após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, fechar a fronteira entre os dois países em 12 de dezembro. Primeiro para veículos e pedestres, depois apenas para carros, caminhões e ônibus que cruzavam diariamente a fronteira entre Pacaraima e Santa Elena do Uairén.

Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas entram e saem caminhando com compras em mochilas e sacolas – Bruno Santos/ Folhapress

Além de fechar a fronteira, só “reaberta” no último dia 7, Maduro “desertificou” o trecho da BR-174 que liga a capital à Venezuela, por dois outros motivos.

O primeiro é que não há outras cidades populosas no trajeto, que corta em mais de 70 km a terra indígena São Marcos. O segundo é que Pacaraima não tem postos de combustíveis, já que a gasolina na Venezuela é muito barata, e o posto mais próximo fica em… Boa Vista.

Com isso, quem não tinha necessidade de usar a estrada deixou os veículos parados. Quem precisou, ou arriscou sofrer uma pane seca até chegar à capital ou comprou gasolina venezuelana que entrava no país por meio de motocicletas que usavam rotas ilegais para cruzar a fronteira, como a Folha mostrou.

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Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela - Bruno Santos/ Folhapress
Do lado brasileiro da fronteira, pessoas Travessia na fronteira entre Brasil e Venezuela – Bruno Santos/ Folhapress

A reportagem flagrou dois pontos de venda clandestinos de combustível em Pacaraima, um operando ao lado de uma mercearia e outro, numa borracharia. Nos dois locais, havia venezuelanos descarregando garrafões de água nos quais a gasolina é transportada.

O preço do litro chegava a R$ 6, valor superior à média de R$ 3,89 nos postos oficiais, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

“A Venezuela não tem comida, não tem emprego e o comércio vive enfrentando saques. É o único meio de conseguir algum dinheiro, com o fechamento da fronteira”, disse um vendedor venezuelano, que não quis se identificar.

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Em Santa Elena, onde ele compra o combustível, é possível encher o tanque de um carro com menos de R$ 3. Num posto imediatamente após a fronteira, brasileiros conseguem abastecer por R$ 1 o litro.

Não à toa, segundo a PF (Polícia Federal), gasolina é o produto mais apreendido na fronteira entre os dois países.

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Álcool mais caro que gasolina e ‘carros-bomba’: a rotina de motoristas entre Roraima e Venezuela https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/11/30/alcool-mais-caro-que-gasolina-e-carros-bomba-a-rotina-de-motoristas-entre-roraima-e-venezuela/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/11/30/alcool-mais-caro-que-gasolina-e-carros-bomba-a-rotina-de-motoristas-entre-roraima-e-venezuela/#respond Wed, 30 Nov 2016 11:00:06 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3170 POR MARCELO TOLEDO, EM BOA VISTA (RR)

É comum, no dia a dia, motoristas chegarem aos postos de combustíveis pelo país e conferirem o preço da gasolina e do etanol antes de abastecerem seus veículos, para saberem qual compensa mais. Se custar até 70% do valor da gasolina, o etanol é mais vantajoso para o bolso do consumidor.

Em Roraima, não é preciso fazer nenhuma conta. Por dois motivos: a maioria dos postos não vende o combustível derivado da cana-de-açúcar e, quando comercializa, ele chega a custar até mais que o litro da gasolina.

Roraima tem vivido uma onda migratória de venezuelanos em busca de comida e trabalho. Já são 30 mil, segundo o Estado, os venezuelanos que nos últimos seis meses deixaram seu país com a crise de abastecimento e cruzaram a fronteira com o Brasil.

Na capital, Boa Vista, um dos postos vende o litro do etanol a R$ 3,85, ante os R$ 3,82 cobrados do litro da gasolina. Para valer a pena, o álcool deveria custar, no máximo, R$ 2,674.

Em Boa Vista, etanol chega a custar mais que a gasolina em postos de combustíveis - Foto: Marcelo Toledo/Folhapress
Em Boa Vista, etanol chega a custar mais que a gasolina em postos de combustíveis – Foto: Marcelo Toledo/Folhapress

 

“Às vezes, aparece alguém querendo etanol, mas é difícil. Já cheguei a ficar mais de uma semana inteira sem abastecer nenhum carro com o combustível. Quando surge, é algum desavisado, normalmente com carro alugado”, disse o frentista Fausto Santos.

Em outros postos, nem há placas com o preço do etanol, pois os estabelecimentos desistiram da comercialização.

“É difícil encontrar etanol por aqui. Quando inaugurou o posto, há dois anos, chegou a ter, mas acho que acabou aquele tanque e nunca mais veio”, disse o também frentista João Carlos Lima.

De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o preço médio da gasolina em nove postos da capital é de R$ 3,84, enquanto o etanol, pesquisado em três postos –pois nem todos têm o combustível–, teve como custo médio R$ 3,62.

Com isso, de janeiro a outubro, Roraima consumiu só 1,2 milhão de litros de etanol, ante 106 milhões de litros de gasolina.

‘CARROS-BOMBA’

Há, também, um outro agravante: a capital está a 230 km de Santa Elena de Uairén, primeira cidade da Venezuela após a fronteira com o Brasil e onde é possível abastecer o tanque com gasolina a um preço que não chega a R$ 2 o litro –valor praticado para brasileiros, já que os venezuelanos pagam muito menos, algo como 20% desse preço.

O local tem filas diárias, que chegam a travar a fronteira entre os países.

No trecho rodoviário entre as cidades, percorrido pela Folha, não há sequer um posto de combustíveis. Nem mesmo em Pacaraima, cidade brasileira que fica na fronteira, é possível abastecer.

Essa possibilidade de encher o tanque de combustível oriundo da Venezuela também fomenta o que é chamado em Roraima de “carros-bomba”. Veículos transportando irregularmente gasolina do país vizinho tentam diariamente entrar no Brasil para revender a gasolina.

Gasolina apreendida em galões na fronteira do Brasil com a Venezuela - Divulgação
Gasolina apreendida em galões na fronteira do Brasil com a Venezuela – Divulgação

Abastecer na Venezuela não é crime, mas o contrabando do combustível, sim. No último dia 15, por exemplo, foram apreendidos na fronteira do Brasil com a Venezuela, em Pacaraima, galões com cerca de 5.000 litros de gasolina, distribuídos em três veículos.

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Prostituição de índias venezuelanas gera temor no extremo norte do Brasil https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/11/25/3165/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/11/25/3165/#respond Fri, 25 Nov 2016 11:00:37 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3165 POR MARCELO TOLEDO, EM BOA VISTA (RR)

Eles já foram vítimas de assaltos, estão vivendo nas ruas em condições de vulnerabilidade social e, nas últimas semanas, passaram a enfrentar a prostituição também.

Índios venezuelanos da etnia warao estão espalhados em cidades de Roraima após deixarem seu país devido à crise de abastecimento, num movimento imigratório que deve crescer nas próximas semanas.

Sem condições de se manterem, eles têm apelado à prostituição na região da Feira do Passarão e à mendicância nos semáforos dos principais cruzamentos da capital. É comum ver idosas indígenas com embalagens de suco recortadas para servir como uma espécie de cofre para os motoristas depositarem moedas e notas de real.

Nas ruas no entorno da feira, as garotas de programa cobram de R$ 70 a R$ 100 por programa, dependendo do horário e da concorrência. Ao menos 150 prostitutas estrangeiras atuam na região, segundo levantamento feito pelo gabinete de crise montado pelo governo do Estado.

“Já confirmamos essa questão da prostituição de uma indígena. Se já houve um caso, a tendência é só aumentar. Contabilizamos 160 famílias de índios venezuelanos, mas deve ter mais, pois não param de chegar. Embora nossa ação inicial seja com os índios brasileiros, essa situação preocupa”, afirmou Ingarikó.

Os indígenas, oriundos do nordeste da Venezuela, já têm chegado a Roraima desde 2014, mas com maior intensidade neste ano. Há ao menos 160 famílias de índios venezuelanos na capital, de acordo com Dilson Ingarikó, 41, secretário do Índio de Roraima.

Em Pacaraima, que fica na fronteira entre os dois países, a Folha encontrou 80 indígenas dividindo um terreno ao lado do terminal rodoviário, num movimento imigratório que deve crescer nas próximas semanas, segundo membros do grupo. O local abriga resíduos da construção civil, lixo doméstico e mato.

“Nós já temos como característica não ficar muito tempo num lugar, fazíamos isso na Venezuela, mas não há mais para onde migrar lá. O governo não ajuda de forma alguma. Viemos para cá e vamos ficar aqui ao menos até fevereiro. Tenho 35 anos, nunca pensei em vir até a crise se agravar, mas lá não há o que comer, não há trabalho”, disse Jose Zapata, que espera a chegada de membros da família que ainda estão na Venezuela.

Garotas de programa cobram de R$ 70 a R$ 100 por programa - Foto: Eduardo Knapp/Folhapress
Garotas de programa cobram de R$ 70 a R$ 100 por programa – Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

Já na capital Boa Vista, outros cerca de 40 têm passado as noites na área de embarque e desembarque da rodoviária internacional há mais de um mês, dos quais 15 são crianças. Grupos ligados a igrejas e a entidades têm distribuído alimentos e roupas aos indígenas.

“É muito triste ver um cenário desses e resolvemos ajudar. O foco principal não era esse, era atender usuários de drogas, mas a chegada dos venezuelanos tomou uma proporção muito grande e foi preciso agirmos”, disse o funcionário público Felipe Silveira, 19, integrante de um grupo de jovens da Igreja Católica que distribui sopa aos indígenas no local.

Já há relatos de venezuelanos que estão se deslocando também para cidades do Amazonas.

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Pastor prega em “portunhol” para venezuelanos em cidade fronteiriça em Roraima https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/08/pastor-prega-em-portunhol-para-venezuelanos-na-fronteira/ https://brasil.blogfolha.uol.com.br/2016/08/08/pastor-prega-em-portunhol-para-venezuelanos-na-fronteira/#respond Mon, 08 Aug 2016 12:00:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://brasil.blogfolha.uol.com.br/?p=3040 ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL A PACARAIMA (RR)

É quase meio dia em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela. Em meio às ruas cheias de venezuelanos que carregam arroz e farinha, o missionário Moisés Colares, 39, sua ao gritar ao microfone.

“La hambre está inundando Venezuela. La hambre está em toda parte. Y el hombre não pode fazer nada”, prega, em portunhol, misturando as palavras “fome” e “homem” em espanhol ao seu discurso. “Surretate, Venezuela! La única saída é mirar para arriba!”, diz, em menção a “acima”, para o céu.

Alguns venezuelanos ouvem de longe. A maioria nem para: continua a carregar os sacos de comida que compram na cidade, para combater a crise de abastecimento que assola o país.

Moises Colares, 39, missionário da Assembleia de Deus, prega em "portunhol" nas ruas de Pacaraima (RR) - Avener Prado/Folhapress
Moises Colares, 39, missionário da Assembleia de Deus, prega em “portunhol” nas ruas de Pacaraima (RR) – Avener Prado/Folhapress

Os venezuelanos invadiram o Brasil nos últimos meses em busca de comida, como mostrou a Folha. Vêm de todo o país para comprar arroz, farinha, açúcar e óleo, em falta por lá.

Pacaraima, cidade de 12 mil habitantes, fica colada à divisa com a Venezuela: a rodovia que leva à cidade termina no país de Hugo Chávez, demarcado apenas por barreiras policiais, com passagem livre.

Muitos venezuelanos moram em Pacaraima, ou atravessam a fronteira diariamente para trabalhar do lado brasileiro, e vice-versa. Os brasileiros costumavam invadir a cidade-gêmea de Santa Elena do Uairén para fazer compras –o que acabou depois da crise no país vizinho.

Os pastores, também, cruzam a divisa com frequência.

Na rua, Colares não desanima à aparente indiferença e continua a bradar: “Chávez morió [morreu]. Y donde está Chávez? Donde está Simón Bolívar? Clama y ele não escucha [escuta]! Deus és mayor que Chávez, mayor que Maduro, mayor que Venezuela!”

Moises Colares, 39, missionario da Assembleia de Deus, prega em "portunhol" nas ruas de Pacaraima para os venezuelanos que fazem compra no comercio brasileiro.
Grupo da Assembleia de Deus canta e faz pregações nas de Pacaraima para brasileiros e venezuelanos- Avener Prado/Folhapress0808

Membro da Assembleia de Deus, o missionário diz que o número de venezuelanos que se converteu está crescendo.

“Muitos têm reconhecido que precisam de Deus”, diz à reportagem. “Eu já trabalhei em penitenciária, nas ruas… A fome que está lá dentro [da Venezuela] é incomparável.”

A Assembleia de Deus tem cerca de 300 fieis em Pacaraima, boa parte venezuelanos –e uma congregação em Santa Elena do Uairén. “Já são 40 pessoas lá”, comemora Colares.

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